São Paulo, sábado, 6 de junho de 1998

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Garota mata mãe e avó com ajuda de parceira

FERNANDO MENDONÇA
da Agência Folha, em Curitiba

Duas jovens homossexuais paranaenses confessaram ontem na delegacia de São José dos Pinhais (PR) o assassinato da mãe e da avó de uma delas no sábado passado.
Segundo depoimento das duas jovens, a família de Ágata Cristiane Précoma, 19, não concordava com seu relacionamento com Vanessa Quinteiro Naves, 18.
Segundo o relato feito ao delegado José Roberto Jordão, 38, baseado no depoimento prestado pelas duas, na noite de sábado, Ágata discutiu com a mãe, Elisabeth Maria Willebruna, 41. Das agressões verbais, elas partiram para as agressões físicas.
Vanessa, que escutava a discussão do lado de fora da casa, entrou para ajudar Ágata a bater em Elisabeth, que caiu e, segundo o delegado Jordão, "foi esganada a quatro mãos pelas duas".
A mãe de Elisabeth -avó de Ágata-, Genoefa Précoma, 81, tentou intervir e foi agredida pelas jovens, que também a asfixiaram. Após o duplo crime, as duas garotas fugiram para uma pensão na região central de Curitiba.
O delegado de São José dos Pinhais disse que a polícia procurava Ágata e Vanessa desde a última terça-feira, dia em que ele foi informado de que havia acontecido "um suicídio e uma morte natural" no endereço do crime.
Os corpos foram encontrados quando uma amiga de Elisabeth, que pediu para ser identificada apenas como Val, entrou na casa.
Ela disse à Agência Folha que desde o domingo tentava, sem sucesso, falar com a amiga. "Na terça-feira, pedi ao vizinho a chave do portão principal. Quando entrei, encontrei Elisabeth pendurada na lavanderia e Genoefa morta na cama", disse Val.
Vanessa e Ágata confessaram ao delegado que, após asfixiar as vítimas, forjaram a cena do crime, tentando simular o suicídio de Elisabeth e a morte natural de Genoefa enquanto dormia.
Segundo Jordão, o depoimento feito na delegacia pelas duas jovens foi sereno. "É impressionante como elas ficaram calmas, em nenhum momento demonstraram arrependimento e até trocaram sorrisos entre si", afirmou.
A Agência Folha não conseguiu falar com as duas jovens ontem. Em entrevista à TV Bandeirantes, Ágata disse que nunca se deu bem com a mãe. "A gota d'água foi o preconceito. Ela não aceitava minha homossexualidade e implicou comigo no sábado, quando eu ia sair com Vanessa. Houve xingamentos e agressões no meu quarto, e a Vanessa veio ajudar. Acabamos asfixiando minha mãe."
Já Vanessa afirmou à emissora que Elisabeth era histérica e que não era possível o diálogo. "Não havia saída, tínhamos de fazer."
Sobre a morte da avó, Ágata disse que também foi "inevitável". "Ela viu tudo e com certeza acabaria nos delatando."
Uma vizinha, que preferiu não se identificar, disse não acreditar que as duas tenham agido sozinhas.
O delegado Jordão disse que Ágata e Vanessa vão aguardar o julgamento em liberdade porque não houve o flagrante. Elas devem ser julgadas por um júri popular.



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