São Paulo, segunda-feira, 06 de agosto de 2007

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Implosão falha, e bloco de 6 m só cai depois

Área foi derrubada uma hora mais tarde; chance de erro era cogitada, diz engenheiro

Tráfego na avenida Washington Luís foi totalmente liberado; Kassab confirma que local será transformado em memorial

Rogério Cassimiro/Folha Imagem
Implosão do prédio da TAM Express; primeira tentativa não foi suficiente para demolir estrutura


DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um, dois, três segundos, e o cenário da maior tragédia da aviação brasileira, com 199 mortos, veio quase todo abaixo às 15h30 de ontem. Quase todo: um bloco lateral de seis metros de altura continuou em pé e só foi derrubado uma hora mais tarde, por máquinas de perfuração de concreto.
A avenida Washington Luís (zona sul de São Paulo), parcialmente interditada desde o acidente com o avião da TAM, foi totalmente liberada algumas horas depois da operação.
Para colocar abaixo o terminal de cargas da TAM Express, atingido pelo Airbus da companhia aérea no dia 17 de julho, a empresa Arcoenge -que também demoliu o Carandiru e o edifício Palace II- usou 75 quilos de dinamite.
O bloco que não caiu na implosão havia recebido "quantidades menores de explosivo" para que não fosse preciso "interditar uma área maior de casas", segundo o engenheiro Manuel Jorge Dias, responsável pela supervisão do trabalho. "Deveria ter sido suficiente, mas sabíamos da possibilidade desse trecho não cair, o que não é um problema, já que as máquinas terminaram o trabalho", ele explica.
No total, 150 imóveis ficaram interditados na região da implosão. A maior parte foi liberada apenas 20 minutos após a operação. Outros 22 continuarão fechadas pelos próximos dias -21 moradores ainda estão hospedados em quartos de hotel enquanto aguardando autorização para voltar para casa.
A derrubada do prédio afetou três casas vizinhas, que tiveram suas edículas de destruídas. Segundo a Defesa Civil, os moradores já haviam sido avisados da possibilidade.
De acordo com a assessoria de imprensa da TAM, as 18 mil toneladas de entulho resultantes da implosão serão levadas para um depósito em São Carlos (SP) e depois vistoriadas -possíveis objetos pessoais serão devolvidos à companhia aérea e às famílias das vítimas.
Após a queda do prédio, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) confirmou a transformação do local em uma praça em memória das vítimas. A TAM informou ontem que o terreno foi doado à prefeitura.
O governador José Serra (PSDB) também assistiu à cena: chegou ao passos largos, cerca de um minuto antes da implosão. Declarou que o prédio "é um monumento às avessas" e que "Se o inferno tem cara, era aquilo que vi lá."
Com o prédio totalmente no chão, uma retroescavadeira demoliu a cobertura do posto de gasolina que era vizinho do terminal de cargas pela lateral e pelos fundos. O que acontecerá com o local? "Ainda não sei", afirma o proprietário Marcos Sartori. Ele diz que não descarta a possibilidade de reconstruir o posto. "Ninguém me procurou para falar sobre isso. Na verdade, eu estava viajando, nem sabia que o prédio e o posto seriam demolidos hoje", disse ele, por telefone.

Operação rápida
A decisão de demolir o prédio foi tomada pela TAM no fim da tarde de sábado, depois que a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo encaminhou nota à imprensa dizendo que o local estava liberado para demolição desde o dia 28 de julho.
As paredes do prédio haviam sido perfuradas (300 orifícios no total) para abrigar os explosivos. O local também foi protegido por telas para que os estilhaços não se espalhassem.
O imóvel corria risco de desabamento desde a tragédia, especialmente depois que alguns de seus pilares começaram a entortar.
Depois que o imóvel foi totalmente demolido, seis equipes de limpeza da prefeitura começaram a limpar as ruas dos arredores. Caminhões pipa despejavam água para ajudar no trabalho.


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