|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Criança rica quer emagrecer; a pobre, engordar, diz estudo
UFMG ouviu 1.183 alunos de escolas públicas e privadas de Belo Horizonte
De acordo com a pesquisa, a maioria dos estudantes tem peso normal, mas está insatisfeita com o próprio corpo cada vez mais cedo
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
Crianças ricas querem ser
mais magras. As pobres querem engordar. A maioria tem
peso normal, mas está insatisfeita com o próprio corpo cada
vez mais cedo. Essas são algumas das conclusões de estudo
feito na UFMG (Universidade
Federal de Minas Gerais).
Elaborada pela pediatra Ana
Elisa Fernandes, do Hospital
das Clínicas de Belo Horizonte,
a pesquisa ouviu 1.183 alunos
de escolas públicas e privadas
da cidade, entre 6 e 18 anos.
O levantamento -que terminou neste ano- começou em
1998. Apesar disso, Fernandes
diz que a pesquisa é válida porque utilizou a amostra mais
ampla -em entrevistados e
amplitude de faixa etária- que
identificou em todos os estudos
desse tipo já feitos no país.
Quem tem mais desejo de
emagrecer são os brancos
(38%), de escola particular
(46,4%) e da classe socioeconômica mais alta (51,4%) -cuja
família ganha até 45 mínimos
por mês. Já 33,3% dos negros,
33% dos de escola pública e
40% dos da classe socioeconômica mais baixa -com renda
de até dois mínimos- querem
engordar. "O nível de desnutrição é fator importante nessa segunda faixa", diz a pediatra.
Insatisfeitos
A pesquisa mostra que 62,6%
dos estudantes estão insatisfeitos com o próprio corpo, e que a
preocupação com a imagem é
cada vez mais precoce.
O desejo de alterar o próprio
peso é maior em crianças de 6 a
9 anos do que entre adolescentes de 14 a 18 anos. A faixa que
vai dos 10 aos 13 anos é a mais
inconformada: 40,7% querem
emagrecer, e 20,7%, engordar.
Para Fernandes, a pressão
dos pais aumenta a insatisfação
dos estudantes.
"Quando há sobrepeso, a mãe
reclama de comida demais, de
doce, às vezes compara com o
colega. E isso ocorre cada vez
mais cedo."
O IMC (Índice de Massa Corporal), no entanto, coloca
80,1% dos alunos com o peso
normal, o que evidencia uma
distorção da própria imagem.
Meninos X meninas
Para a pesquisadora, outro
dado que chama a atenção é
que os meninos estão até mais
preocupados que as meninas
com o corpo (64,1% contra
61,4%). "Menina adora Barbie,
um padrão de corpo [da boneca] totalmente aceito e incutido
há muito tempo. Os meninos
têm brincado hoje com [bonecos] Batman e Super-Homem
muito mais musculosos que antigamente. Isso influencia."
Para a especialista em história do corpo da PUC-SP Denise
Bernuzzi isso reflete a colocação do homem como objeto de
desejo. Essa mudança, diz, foi a
partir dos anos 60, quando os
papéis masculino e feminino
começaram a se confundir.
A pesquisa também diz que o
desejo de ganhar peso pode significar que a criança quer aumentar a massa muscular.
Texto Anterior: Pai de rapaz baleado critica mãe de promotor Próximo Texto: Apesar da insatisfação com o corpo, jovens estudantes não melhoram a dieta Índice
|