|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO
Fim das enchentes
ANTÔNIO PEROSA
A falta de planejamento urbano
na região metropolitana de São
Paulo gerou, ao longo dos anos,
sérios problemas para os seus rios,
principalmente os dois maiores, o
Tietê e o Pinheiros. O maior deles é
o assoreamento permanente.
Principal responsável pelas enchentes, o assoreamento acontece
porque, com a total devastação
das matas ciliares, as camadas menos resistentes dos terrenos das
margens ficam expostas à ação das
chuvas. Levada pela enxurrada, a
terra daí desprendida é depositada
no leito dos cursos d'água. Além
da terra, eles recebem grande volume de lixo, entulho e detritos de
toda a espécie, que fazem diminuir
a vazão de suas águas.
A ocupação desordenada da área
urbana, com os loteamentos clandestinos e as favelas construídas às
margens dos rios, somada à impermeabilização do solo causada
pelo constante aumento da malha
de asfalto, só agravou o problema.
Há outro fator importante: o
Tietê e o Pinheiros têm pouco declive, o que resulta em lento escoamento de suas águas. O Tietê cai
apenas 15 centímetros por quilômetro. Os córregos que nele desembocam chegam a 1,5 metro ou
mais por quilômetro, abastecendo-o com um volume acima de sua
capacidade de escoamento.
A canalização de córregos, por
sua vez, não evita as enchentes.
Apenas transfere o problema de
lugar. Os 16 milhões de m2 de várzeas preservadas ao longo do Tietê, como no parque Ecológico, não
bastam para absorver o extravasamento do rio nas grandes chuvas.
Desde o início do século o assoreamento do Tietê é uma preocupação pública. O governo Covas,
porém, propôs uma mudança radical na filosofia de combate às enchentes. Em vez das obras tradicionais, como a canalização de
córregos, considerou que a gestão
dos recursos hídricos deve entender a água como um dos elementos do ecossistema urbano, que só
poderá ser equacionado por uma
estratégia global de abordagem.
Assim, a questão das enchentes
está sendo atacada em três frentes:
1) obras corretivas, como o aprofundamento da calha do Tietê, 2)
obras de manutenção, como o desassoreamento, e 3) ações preventivas a partir do uso de tecnologias
inovadoras e do planejamento de
ações de curto, médio e longo prazos, com integração de Estado,
municípios e sociedade civil.
Sob a égide dessa nova política, o
Departamento de Águas e Energia
Elétrica assinou contrato com o
Fundo Internacional de Cooperação Econômica, no valor de R$ 500
milhões, para o financiamento de
obras. Entre elas, destacam-se a
canalização do rio Cabuçu de Cima, o aprofundamento da calha
do Tietê entre a foz do rio Pinheiros e a barragem Edgard de Souza
e a construção de duas novas barragens -Paraitinga e Biritiba.
Outra obra de grande impacto
será a construção -em conjunto
com as prefeituras do ABCD- de
46 piscinões, que exigirá investimentos de mais de R$ 26 milhões.
Dessa maneira, o aprofundamento da calha do Tietê e o seu desassoreamento contínuo serão
providências eficazes contra as enchentes. Elas são as partes principais de um conjunto de soluções
integradas para o problema.
Antônio Perosa, 54, engenheiro agrônomo, é
secretário-adjunto de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras do Estado de São Paulo. Foi deputado federal pelo PMDB e secretário nacional
de Saneamento no governo Itamar Franco.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|