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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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POLÍCIA

Cerca de dez pessoas foram vítimas de estelionatários, que cobravam até R$ 1,8 mil para libertar presos em São Paulo

Falso advogado dá golpe em presídios

SIMONE IWASSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dentro dos Centros de Detenção Provisória (CDPs) da Grande São Paulo, um novo golpe tem vitimado advogados e familiares de presos: o do advogado "clonado". A armação é arquitetada por um homem e uma mulher que entram no CDP como pastores evangélicos e se apresentam aos presos como advogados que podem conseguir a sentença de liberdade em troca de um pagamento em dinheiro. Algumas pessoas chegaram a pagar cerca de R$ 1.800 pelo falso serviço.
O falso pastor evangélico apresenta um cartão com o nome e o número da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de um profissional legítimo, chegando a assinar "contratos" de prestação de serviço e a pegar dinheiro em nome desse profissional.
O golpe, aplicado nos CDPs de Mogi das Cruzes e Guarulhos, já fez cerca de dez vítimas desde setembro, segundo a delegada Vera Lúcia Araújo, do 5º DP de Santo André, que investiga o caso. As vítimas do golpe têm sido orientadas a registrar um boletim de ocorrência na delegacia.
Além das famílias que perdem o dinheiro, os advogados que têm os nomes utilizados pelo estelionatário também saem prejudicados. "Fiquei sabendo quando recebi um comunicado para comparecer a um julgamento em Cubatão. Liguei para o cartório e descobri que meu nome constava como a advogada de defesa de um réu que eu nem conhecia", explica a advogada Roxane Elisa de Oliveira Campos, de Santo André, que teve seu nome "clonado".
A partir daí, Campos começou a ser procurada por familiares de presos, que reclamavam que tinham feito o pagamento, mas não tinham obtido retorno. "As famílias tentavam contatar o falso pastor, que tinha mudado de telefone. Daí iam até a OAB com o meu nome, pegavam o meu endereço e chegavam até o escritório. Eu explicava, mas foi difícil fazer elas acreditarem", afirma.
O advogado Jonas Verissimo também foi vítima do estelionatário, que chegou a alugar uma sala ao lado do seu escritório, há cerca de quatro meses. "Ele veio e ficou dois meses. Dizia que fazia auditoria para igrejas evangélicas. Um dia ele foi embora e começou uma fila de parentes de presos procurando por ele", diz.
A surpresa de Verissimo, no entanto, começou quando os familiares, em vez de procurarem na sala ao lado, começaram a bater em sua porta. "Eles diziam que procuravam o doutor Jonas Verissimo, que tinha recebido o pagamento para conseguir uma liminar e soltar o parente deles."
Ao saber que tinha sido incluído no golpe, Veríssimo procurou a polícia e a OAB. Descobriu que o falso pastor tinha alugado uma outra sala, também em Santo André, para montar o falso escritório -ora se apresentando como Jonas Verissimo ora como João Ribeiro Viana, outro nome falso, segundo a polícia. "Minha segurança está ameaçada. A recomendação que eu tive era mudar de escritório porque algum preso prejudicado por esse homem pode querer se vingar", diz o advogado.
No outro endereço -uma sala na rua Paracatu, Parque Capuava (Santo André)-, o processo se repetiu. Segundo a proprietária do local, um homem identificado como João Viana alugou, no final de setembro, a sala por seis meses -pagando adiantado e em dinheiro as parcelas de R$ 350. No último sábado, ele levou tudo o que tinha na sala e desapareceu.
Durante a semana, a proprietária tem recolhido as cartas que chegam dos CDPs para o falso advogado, enviando todas para a polícia. O autor do golpe, segundo descrição das pessoas, é um homem branco, de 1,65 m, forte, de cabelos castanhos e que costuma usar gravata e camisas azuis.
Segundo a Secretaria da Administração Penitenciária, nenhum dos casos chegou até a direção dos CDPs, que pode proibir a entrada do homem que se identifica como pastor. Para entrar no presídio, as entidades religiosas precisam fazer um cadastro. Uma vez cadastradas, elas podem entrar quase todos os dias nos CDPs.


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