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POLÍCIA
Cerca de dez pessoas foram vítimas de estelionatários, que cobravam até R$ 1,8 mil para libertar presos em São Paulo
Falso advogado dá golpe em presídios
SIMONE IWASSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dentro dos Centros de Detenção Provisória (CDPs) da Grande
São Paulo, um novo golpe tem vitimado advogados e familiares de
presos: o do advogado "clonado".
A armação é arquitetada por um
homem e uma mulher que entram no CDP como pastores
evangélicos e se apresentam aos
presos como advogados que podem conseguir a sentença de liberdade em troca de um pagamento em dinheiro. Algumas
pessoas chegaram a pagar cerca
de R$ 1.800 pelo falso serviço.
O falso pastor evangélico apresenta um cartão com o nome e o
número da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de um profissional legítimo, chegando a assinar "contratos" de prestação de
serviço e a pegar dinheiro em nome desse profissional.
O golpe, aplicado nos CDPs de
Mogi das Cruzes e Guarulhos, já
fez cerca de dez vítimas desde setembro, segundo a delegada Vera
Lúcia Araújo, do 5º DP de Santo
André, que investiga o caso. As vítimas do golpe têm sido orientadas a registrar um boletim de
ocorrência na delegacia.
Além das famílias que perdem o
dinheiro, os advogados que têm
os nomes utilizados pelo estelionatário também saem prejudicados. "Fiquei sabendo quando recebi um comunicado para comparecer a um julgamento em Cubatão. Liguei para o cartório e
descobri que meu nome constava
como a advogada de defesa de um
réu que eu nem conhecia", explica
a advogada Roxane Elisa de Oliveira Campos, de Santo André,
que teve seu nome "clonado".
A partir daí, Campos começou a
ser procurada por familiares de
presos, que reclamavam que tinham feito o pagamento, mas não
tinham obtido retorno. "As famílias tentavam contatar o falso pastor, que tinha mudado de telefone. Daí iam até a OAB com o meu
nome, pegavam o meu endereço e
chegavam até o escritório. Eu explicava, mas foi difícil fazer elas
acreditarem", afirma.
O advogado Jonas Verissimo
também foi vítima do estelionatário, que chegou a alugar uma sala
ao lado do seu escritório, há cerca
de quatro meses. "Ele veio e ficou
dois meses. Dizia que fazia auditoria para igrejas evangélicas. Um
dia ele foi embora e começou uma
fila de parentes de presos procurando por ele", diz.
A surpresa de Verissimo, no entanto, começou quando os familiares, em vez de procurarem na
sala ao lado, começaram a bater
em sua porta. "Eles diziam que
procuravam o doutor Jonas Verissimo, que tinha recebido o pagamento para conseguir uma liminar e soltar o parente deles."
Ao saber que tinha sido incluído
no golpe, Veríssimo procurou a
polícia e a OAB. Descobriu que o
falso pastor tinha alugado uma
outra sala, também em Santo André, para montar o falso escritório
-ora se apresentando como Jonas Verissimo ora como João Ribeiro Viana, outro nome falso, segundo a polícia. "Minha segurança está ameaçada. A recomendação que eu tive era mudar de escritório porque algum preso prejudicado por esse homem pode
querer se vingar", diz o advogado.
No outro endereço -uma sala
na rua Paracatu, Parque Capuava
(Santo André)-, o processo se
repetiu. Segundo a proprietária
do local, um homem identificado
como João Viana alugou, no final
de setembro, a sala por seis meses
-pagando adiantado e em dinheiro as parcelas de R$ 350. No
último sábado, ele levou tudo o
que tinha na sala e desapareceu.
Durante a semana, a proprietária tem recolhido as cartas que
chegam dos CDPs para o falso advogado, enviando todas para a
polícia. O autor do golpe, segundo
descrição das pessoas, é um homem branco, de 1,65 m, forte, de
cabelos castanhos e que costuma
usar gravata e camisas azuis.
Segundo a Secretaria da Administração Penitenciária, nenhum
dos casos chegou até a direção dos
CDPs, que pode proibir a entrada
do homem que se identifica como
pastor. Para entrar no presídio, as
entidades religiosas precisam fazer um cadastro. Uma vez cadastradas, elas podem entrar quase
todos os dias nos CDPs.
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