São Paulo, #!L#Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2000


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COTIDIANO IMAGINÁRIO
A pasta de Greenspan

MOACYR SCLIAR
Colunista da Folha


 "Pasta de Greenspan serve de barômetro: peso da maleta indica mudança de juros." Dinheiro, 1.fev.2000

Recentemente realizou-se numa pequena cidade européia um importante (e secreto) encontro de economistas. O tema do conclave era: "Sinais econômicos em Alan Greenspan." Partindo do princípio segundo o qual a economia mundial depende, em muito, das decisões do presidente do Federal Reserve norte-americano, os analistas procuraram encontrar, no próprio Greenspan, indicadores de tendência no mercado global.
Um dos trabalhos tentou mostrar a influência das rugas da testa de Greenspan na conjuntura econômica. Quanto mais preocupado com a inflação Greenspan estiver, esse era o raciocínio, mais fundas serão as rugas em sua testa. Daí o autor chegou a uma fórmula: a profundidade das rugas, medidas em milímetros, elevadas ao quadrado e multiplicadas por uma constante, dariam a taxa de inflação no mês seguinte.
A tese, contudo, não pôde ser demonstrada, em primeiro lugar, porque o autor não conseguiu calcular a constante da fórmula e, em segundo lugar, por que, apesar de todos os rogos e súplicas, Greenspan não deixou que medissem a profundidade de suas rugas, alegando que logo outros autores pretenderiam medir diferentes partes de sua anatomia, o que ele não podia permitir.
Mais bem elaborado foi um outro trabalho, este baseado na pasta de Greenspan. O raciocínio era o seguinte: para demonstrar a necessidade de elevar a taxa de juros, o presidente teria de levar, na pasta, numerosos relatórios e gráficos - ponderáveis tanto do ponto de vista de argumentação como de peso propriamente dito.
Através de um modelo teórico, o autor mostrou a correlação do peso da referida pasta com a curva da taxa de juros. E, diferentemente de seu predecessor, teve uma oportunidade única para comprovar a sua tese. Ele estava presente à reunião em que Greenspan, por um momento, esqueceu a maleta num canto.
Depois de alguma vacilação de natureza ética, o economista apoderou-se dela e correu à sala ao lado, onde havia uma balança. Mas ocorreu um problema: ele não sabia usar a balança. Essas coisas de supermercado ficam por conta de minha esposa, disse mais tarde, à guisa de desculpa.


Moacyr Scliar escreve nesta coluna, às segundas-feiras, um texto de ficção baseado em notícias publicadas no jornal




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