São Paulo, #!L#Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2000


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PF ajudará a investigar atuação de angolanos na chacina no Rio

da Sucursal do Rio

A Polícia Civil pedirá ajuda à Polícia Federal para investigar a participação de refugiados angolanos no tráfico de drogas e na chacina na favela Nova Holanda.
Na noite de quinta-feira, cerca de 30 homens entraram na favela em dois caminhões e mataram seis pessoas. Os invasores eram traficantes do morro do Timbau, que estão em guerra com os de Nova Holanda pelo controle dos pontos-de-venda da droga. Usavam roupas camufladas, fuzis AK-47 e sistema de rádio.
A 21ª DP (Delegacia Policial), em Bonsucesso (zona norte), que acompanha o caso, recebeu informações de que os traficantes do Timbau recrutaram refugiados angolanos e estão aprendendo com eles táticas de guerrilha.
"O uso dos caminhões, a chegada de surpresa e à luz do dia, a camuflagem, tudo isso são táticas que os traficantes daqui não usavam e estão usando agora. Estamos investigando", afirmou o chefe de investigações da delegacia, Antônio Augusto de Abreu.
Abreu disse que os primeiros dados sobre os angolanos surgiram há aproximadamente dois meses e que a delegacia vem investigando o caso desde então.
Ações como as da Nova Holanda são conhecidas pela polícia por dois nomes: o "bonde suicida", que vai para matar ou morrer, ou o "ataque soviético", que vai, atira e volta rápido. O ataque foi tão organizado que os invasores tinham até um sistema de rádio para monitorar a chegada dos policiais.
O secretário da Segurança Josias Quintal designou o diretor das delegacias especializadas, Marcos Reimão, para dirigir a investigação sobre os angolanos.
A Polícia Federal informou que não dispõe de informações concretas sobre a participação de refugiados angolanos no tráfico, mas que está à disposição da Polícia Civil para as investigações.
A assessoria informou que a PF poderá inclusive fazer um levantamento dos angolanos que vivem nas favelas do Complexo da Maré. Os relatórios da PF indicam que muitos outros africanos, especialmente os nigerianos, atuam no tráfico servindo de "mulas" (transportadores de cocaína).
Na Nova Holanda, o clima foi de tensão durante o fim-de-semana. PMs ocupam o local, e moradores temem novas invasões.
Segundo a Cáritas, entidade ligada à Arquidiocese e responsável pela assistência aos refugiados, vivem no Rio cerca de 1.700 beneficiados com asilo político, sendo 1.100 angolanos. Cada um recebe R$ 130 mensais, pagos com recursos da ONU (Organização das Nações Unidas).
O diretor da Cáritas, Cândido Feliciano da Ponte Neto, disse que alguns refugiados angolanos moram em favelas -inclusive no Complexo da Maré, onde se localiza a Nova Holanda-, mas que desconhece a participação deles no tráfico. "Recebemos a informação com surpresa. Acho que o caso tem de ser investigado com rigor, porque temo que essa acusação só aumente o preconceito contra os refugiados", afirmou.
Neto disse também que, caso fique comprovada a participação de algum refugiado no tráfico, ele tem de responder criminalmente de acordo com as leis brasileiras. Não pode ser extraditado, pois o direito de asilo é internacional.



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