São Paulo, terça-feira, 07 de março de 2000


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SEM CALOR
Renato Lage, carnavalesco da escola, culpa o samba-enredo pelo desempenho fraco
Principal atração da 1ª noite, Mocidade faz desfile "morno"

MÁRIO MOREIRA
da Sucursal do Rio

O carnavalesco Renato Lage culpou o samba-enredo pelo fato de a Mocidade Independente não ter "acontecido" em seu desfile, ontem de madrugada. A escola era a maior atração da primeira noite do Grupo Especial do Rio, mas fez um desfile "morno".
"O samba não pode ser só letra, que é linda. Tem que ter também ritmo, empolgação. Mas o que se vai fazer? Cada ano é uma coisa que falha", disse Lage, lembrando que, em 99, a escola apresentou buracos que prejudicaram a evolução e a harmonia.
Ainda assim, a Mocidade foi a única a receber gritos de "campeã" na praça da Apoteose -local onde o público normalmente consagra suas preferidas.
A escola de Padre Miguel apresentou o abre-alas mais criativo -uma nave espacial em que "aborígines do futuro" chegavam do espaço para percorrer o Brasil- e as fantasias mais bonitas, distribuídas cromaticamente em sequência, a partir das cores da bandeira: verde, amarelo, azul e branco. Em cada um desses setores, um "passeio" pelas riquezas naturais do país.
"Acho que o uso das cores foi uma ousadia, um ponto a favor. Você tem que buscar algo novo, fugir do padrão", disse Lage.
Se a Mocidade não chegou a empolgar -até sua bateria, normalmente exuberante, estava comedida-, menos ainda as outras escolas da noite.
Dessas, a que melhor se saiu foi a Grande Rio, com alegorias caprichadíssimas para o enredo "Carnaval à Vista", de Max Lopes. Destaque para o abre-alas, representando a primeira missa no Brasil, "assistida" por índios assustados em meio a uma densa floresta tropical.
A bateria de mestre Odilon foi a mais ousada da noite, com pelo menos cinco paradinhas diferentes -nem todas, é verdade, rigorosamente na cadência do samba.
A Portela, com enredo sobre Getúlio Vargas, desfilou recheada de clichês sobre os anos 30, 40 e 50. Não faltaram alegorias com dados, referência aos cassinos, e fantasias de Carmem Miranda.
A Vila Isabel encheu a avenida de penas coloridas para falar sobre os índios. As fantasias eram bonitas, mas pouco criativas. Problema parecido teve a Tradição, que falou dos negros.
Já a Caprichosos de Pilares, que abordou o período histórico de 1956 a 92, esbarrou num samba de melodia pobre.
A noite foi aberta com a Porto da Pedra, que passou certinha, contando os ideais republicanos.



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