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SEM CALOR
Renato Lage, carnavalesco da escola, culpa o samba-enredo pelo desempenho fraco
Principal atração da 1ª noite, Mocidade faz desfile "morno"
MÁRIO MOREIRA
da Sucursal do Rio
O carnavalesco Renato Lage
culpou o samba-enredo pelo fato
de a Mocidade Independente não
ter "acontecido" em seu desfile,
ontem de madrugada. A escola
era a maior atração da primeira
noite do Grupo Especial do Rio,
mas fez um desfile "morno".
"O samba não pode ser só letra,
que é linda. Tem que ter também
ritmo, empolgação. Mas o que se
vai fazer? Cada ano é uma coisa
que falha", disse Lage, lembrando
que, em 99, a escola apresentou
buracos que prejudicaram a evolução e a harmonia.
Ainda assim, a Mocidade foi a
única a receber gritos de "campeã" na praça da Apoteose -local onde o público normalmente
consagra suas preferidas.
A escola de Padre Miguel apresentou o abre-alas mais criativo
-uma nave espacial em que
"aborígines do futuro" chegavam
do espaço para percorrer o Brasil- e as fantasias mais bonitas,
distribuídas cromaticamente em
sequência, a partir das cores da
bandeira: verde, amarelo, azul e
branco. Em cada um desses setores, um "passeio" pelas riquezas
naturais do país.
"Acho que o uso das cores foi
uma ousadia, um ponto a favor.
Você tem que buscar algo novo,
fugir do padrão", disse Lage.
Se a Mocidade não chegou a
empolgar -até sua bateria, normalmente exuberante, estava comedida-, menos ainda as outras
escolas da noite.
Dessas, a que melhor se saiu foi
a Grande Rio, com alegorias caprichadíssimas para o enredo
"Carnaval à Vista", de Max Lopes.
Destaque para o abre-alas, representando a primeira missa no
Brasil, "assistida" por índios assustados em meio a uma densa
floresta tropical.
A bateria de mestre Odilon foi a
mais ousada da noite, com pelo
menos cinco paradinhas diferentes -nem todas, é verdade, rigorosamente na cadência do samba.
A Portela, com enredo sobre
Getúlio Vargas, desfilou recheada
de clichês sobre os anos 30, 40 e
50. Não faltaram alegorias com
dados, referência aos cassinos, e
fantasias de Carmem Miranda.
A Vila Isabel encheu a avenida
de penas coloridas para falar sobre os índios. As fantasias eram
bonitas, mas pouco criativas. Problema parecido teve a Tradição,
que falou dos negros.
Já a Caprichosos de Pilares, que
abordou o período histórico de
1956 a 92, esbarrou num samba de
melodia pobre.
A noite foi aberta com a Porto
da Pedra, que passou certinha,
contando os ideais republicanos.
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