São Paulo, terça-feira, 07 de março de 2000


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PERNAMBUCO
Evento realizado em Olinda reúne cerca de 8.000 participantes, de 23 municípios
Cortadores de cana viram reis no encontro dos maracatus

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Olinda

Cortadores de cana-de-açúcar, pedreiros e serventes da Zona da Mata foram a grande atração do Carnaval de Pernambuco, ontem em Olinda (6 km de Recife).
Cerca de 8.000 deles, vindos de 23 municípios, se reuniram para participar do 8º Encontro dos Maracatus de Baque Solto, também conhecido como rural.
Fantasiados de guerreiros, reis e rainhas, eles se apresentaram no Ilumiara Zumbi, anfiteatro ao ar livre construído há cinco anos pelo então secretário estadual da Cultura, Ariano Suassuna.
Manifestação cultural de origem africana, o maracatu de baque solto surgiu há mais de um século na zona canavieira de Pernambuco, trazido pelos negros.
Todos os anos seus integrantes, ligados ao candomblé, seguem um ritual antes das apresentações que inclui, em pleno Carnaval, a abstinência sexual por 15 dias para os chamados "guerreiros".
A abstinência, diz o coordenador do encontro e mestre de maracatu Manoel Salustiano Soares, 54, serve para purificar o corpo. "Quem não faz isso adoece, tem desarranjo ou dor-de-cabeça."
Para simbolizar essa pureza, os guerreiros carregam um cravo branco na boca enquanto dançam. No final da apresentação, eles nunca sorriem. "Para nós, o maracatu é uma coisa séria", explica mestre Salustiano.
Apesar da base religiosa, os grupos sofreram influências indígenas e fusões de outros folguedos populares nordestinos, como o cavalo marinho e o pastoril.
Seus integrantes desfilam vestidos com roupas coloridas e os guerreiros, conhecidos também pelo nome de caboclos-de-lança, usam mantos com chocalhos de ferro presos na base.
As roupas, feitas de veludo com bordados, miçangas e lantejoulas, pesam entre 14 e 45 quilos.
Ontem, 80 dos 87 grupos de maracatus do Estado participaram do encontro. As apresentações começaram às 9h.
O escritor Ariano Suassuna e o virtual candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, foram homenageados durante o evento.
Vestindo bermuda, chapéu de palha e uma camiseta do Sindicato dos Servidores Federais do Estado com a inscrição "Carnaval 2000, pau em FHC", Lula foi chamado ao palco e ouviu elogios de um mestre de maracatu.
Ariano Suassuna também foi chamado ao palco e, em seu discurso, ressaltou a "valorização" da rabeca e da viola, instrumentos típicos da música pernambucana.



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