São Paulo, terça-feira, 07 de março de 2000


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DESABAMENTO
Perito diz que problema é no reboco e que estrutura não foi abalada, mas moradores querem mudar
Queda de teto gera pânico no Palace 1

FERNANDA PONTES
da Sucursal do Rio

A queda de um pedaço do teto do apartamento 2006 do edifício Palace 1 provocou na madrugada de ontem pânico nos donos do imóvel, o advogado Sátiro José Teixeira, 45, e a psicóloga Dayse Lúcidi Teixeira, 26.
Eles acharam que o prédio, vizinho do Palace 2, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), poderia cair a qualquer momento.
O edifício Palace 2 desabou parcialmente há dois anos, na madrugada do dia 22 de fevereiro de 1998, também uma segunda-feira de Carnaval. No acidente, oito pessoas morreram e 130 famílias ficaram desabrigadas.
Ontem, os moradores do apartamento saíram à procura de um flat. "Não quero dormir mais uma noite aqui", disse Lúcidi.
O acidente aconteceu à 1h. Teixeira e Lúcidi assistiam ao desfile das escolas de samba pela televisão, na sala do apartamento. Eles ouviram um barulho e foram ver o que tinha acontecido.
Quando chegaram ao quarto do casal, Lúcidi se desesperou. Parte do reboco do teto, aproximadamente dois metros quadrados, havia despencado em cima da cama e da televisão.
Assustado, o casal apanhou o filho Lucas, 4, que dormia em outro quarto, e seguiu para a 16ª Delegacia de Polícia (Barra da Tijuca). "Achei que o prédio poderia desabar", afirmou Lúcidi.
Um perito da Defesa Civil foi levado ao local do acidente e disse que não havia motivo para pânico. A estrutura do prédio não estaria abalada.
A queda do reboco, no entanto, provocou fissuras nas paredes do quarto e da sala do apartamento. Peritos da Defesa Civil voltaram ao local ontem de manhã. ""O problema é só no reboco", disse o perito Davi Becker.
O presidente do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura), José Chacon, afirmou que o prédio não está comprometido. " Houve uma reforma estrutural profunda que nós acompanhamos e que a princípio garante que o prédio não vai cair."
Mesmo com a avaliação dos peritos, Teixeira e Lúcidi não querem ficar no imóvel. "Não vou conseguir sair para trabalhar sabendo que um pedaço de reboco pode cair na cabeça do meu filho", disse Lúcidi.
O casal morava nesse apartamento desde 1995. Estava em casa quando o Palace 2 desabou. Com o filho ainda muito pequeno, foi obrigado a se mudar para casa de parentes. Depois de passar um ano e meio fora de casa, o casal se viu de novo na mesma situação.
Teixeira disse que vai entrar na Justiça pedindo a anulação do contrato e a devolução do que pagou (não disse quanto). "Não podemos continuar vivendo com medo, quero sair daqui."
Os apartamentos do Palace 1 foram desvalorizados depois da tragédia do Palace 2. O Palace 1 ficou interditado por oito meses, período no qual foram feitas obras estruturais. Um imóvel de dois quartos valia R$ 180 mil. Hoje, é vendido a R$ 75 mil.
A líder da Associação de Moradores do Palace 2, Rauliette Guedes, disse que os moradores do Palace 1 deveriam sair do prédio o "mais rapidamente possível".
Segundo ela, o material empregado nos dois edifícios é o mesmo, "de terceira qualidade".
O ex-deputado Sérgio Naya, dono da construtora Sersan, que ergueu o condomínio, teve seu mandato cassado e chegou a ser preso. Naya passou o Natal e a virada de 1999 para 2000 numa carceragem, sendo solto 28 dias depois, em janeiro.
Naya e o engenheiro José Roberto Chendes, apontado como responsável pelo cálculo estrutural da obra, estão sendo processados sob acusação de desabamento na forma dolosa (intencional) com resultado de morte. A pena pode chegar a oito anos de prisão.


Colaborou Sabrina Petry, da Sucursal do Rio


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