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DESABAMENTO
Perito diz que problema é no reboco e que estrutura não foi abalada, mas moradores querem mudar
Queda de teto gera pânico no Palace 1
FERNANDA PONTES
da Sucursal do Rio
A queda de um pedaço do teto
do apartamento 2006 do edifício
Palace 1 provocou na madrugada
de ontem pânico nos donos do
imóvel, o advogado Sátiro José
Teixeira, 45, e a psicóloga Dayse
Lúcidi Teixeira, 26.
Eles acharam que o prédio, vizinho do Palace 2, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), poderia
cair a qualquer momento.
O edifício Palace 2 desabou parcialmente há dois anos, na madrugada do dia 22 de fevereiro de
1998, também uma segunda-feira
de Carnaval. No acidente, oito
pessoas morreram e 130 famílias
ficaram desabrigadas.
Ontem, os moradores do apartamento saíram à procura de um
flat. "Não quero dormir mais uma
noite aqui", disse Lúcidi.
O acidente aconteceu à 1h. Teixeira e Lúcidi assistiam ao desfile
das escolas de samba pela televisão, na sala do apartamento. Eles
ouviram um barulho e foram ver
o que tinha acontecido.
Quando chegaram ao quarto do
casal, Lúcidi se desesperou. Parte
do reboco do teto, aproximadamente dois metros quadrados,
havia despencado em cima da cama e da televisão.
Assustado, o casal apanhou o filho Lucas, 4, que dormia em outro
quarto, e seguiu para a 16ª Delegacia de Polícia (Barra da Tijuca).
"Achei que o prédio poderia desabar", afirmou Lúcidi.
Um perito da Defesa Civil foi levado ao local do acidente e disse
que não havia motivo para pânico. A estrutura do prédio não estaria abalada.
A queda do reboco, no entanto,
provocou fissuras nas paredes do
quarto e da sala do apartamento.
Peritos da Defesa Civil voltaram
ao local ontem de manhã. ""O problema é só no reboco", disse o perito Davi Becker.
O presidente do Crea (Conselho
Regional de Engenharia e Arquitetura), José Chacon, afirmou que
o prédio não está comprometido.
" Houve uma reforma estrutural
profunda que nós acompanhamos e que a princípio garante que
o prédio não vai cair."
Mesmo com a avaliação dos peritos, Teixeira e Lúcidi não querem ficar no imóvel. "Não vou
conseguir sair para trabalhar sabendo que um pedaço de reboco
pode cair na cabeça do meu filho", disse Lúcidi.
O casal morava nesse apartamento desde 1995. Estava em casa
quando o Palace 2 desabou. Com
o filho ainda muito pequeno, foi
obrigado a se mudar para casa de
parentes. Depois de passar um
ano e meio fora de casa, o casal se
viu de novo na mesma situação.
Teixeira disse que vai entrar na
Justiça pedindo a anulação do
contrato e a devolução do que pagou (não disse quanto). "Não podemos continuar vivendo com
medo, quero sair daqui."
Os apartamentos do Palace 1 foram desvalorizados depois da tragédia do Palace 2. O Palace 1 ficou
interditado por oito meses, período no qual foram feitas obras estruturais. Um imóvel de dois
quartos valia R$ 180 mil. Hoje, é
vendido a R$ 75 mil.
A líder da Associação de Moradores do Palace 2, Rauliette Guedes, disse que os moradores do
Palace 1 deveriam sair do prédio o
"mais rapidamente possível".
Segundo ela, o material empregado nos dois edifícios é o mesmo, "de terceira qualidade".
O ex-deputado Sérgio Naya, dono da construtora Sersan, que ergueu o condomínio, teve seu
mandato cassado e chegou a ser
preso. Naya passou o Natal e a virada de 1999 para 2000 numa carceragem, sendo solto 28 dias depois, em janeiro.
Naya e o engenheiro José Roberto Chendes, apontado como
responsável pelo cálculo estrutural da obra, estão sendo processados sob acusação de desabamento na forma dolosa (intencional)
com resultado de morte. A pena
pode chegar a oito anos de prisão.
Colaborou Sabrina Petry, da Sucursal do Rio
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