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São Paulo, sábado, 07 de junho de 2003

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SEGURANÇA

Do país vizinho, Claudair Lopes, preso nesta semana, comandava rede de abastecimento de drogas para São Paulo, Minas e Rio

Traficante de SP monta base no Paraguai

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

O traficante mais procurado em São Paulo, Claudair Lopes de Faria, 35, preso nesta semana no Paraguai, passou os últimos seis meses morando com a atual mulher e um filho de seis anos em uma conhecida região de veraneio às margens de um lago, em São Bernadino, a 50 km de Assunção.
Foragido da Justiça brasileira desde 95, CL (ou Claudinho) trocou de país depois que a polícia paulista apertou o cerco contra sua quadrilha, prendendo, em setembro, cinco pessoas, incluindo um de seus irmãos. Na época, foram apreendidos 400 kg de cocaína e descobertos sítios que serviriam como base de distribuição.
Do país vizinho, usando telefone por satélite, ele estaria comandando uma rede de abastecimento de drogas para três Estados -São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro-, segundo o delegado Ivaney Cayres de Souza, diretor do Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos), da Polícia Civil paulista.
O caminho escolhido é o mesmo do traficante Leomar de Oliveira Barbosa, que se mudou para Capitán Bado, na fronteira do Paraguai com Mato Grosso, depois de ser resgatado em São Paulo -fevereiro de 2001. O braço-direito de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, ligado ao Comando Vermelho, foi recapturado meses depois em uma operação que envolveu as polícias paraguaia, brasileira e a DEA (agência antidrogas dos EUA). Vivia em uma casa luxuosa, de onde chefiava parte dos negócios internacionais da quadrilha.
O local de exílio não teria sido escolhido ao acaso, mas por estar no meio da rota de escoamento da produção colombiana, paraguaia e peruana. Relatórios da polícia americana estimam que entre 40 e 60 toneladas/ano de cocaína atravessam o Paraguai para abastecer a Argentina, o Brasil, a Europa, países da África e os EUA.
CL, que em grampos da polícia brasileira afirma ser "compadre de Beira-Mar", vivia discretamente em uma casa de 2.500 m2, com cinco quartos, em uma região de classe média-alta. Segundo a polícia, não tinha amigos no bairro e usava documentos falsos. Todos os dias, levantava cedo e viajava sozinho para Assunção, onde visitava um hangar no aeroporto, uma concessionária de veículos e a imobiliária de um político paraguaio, de acordo com a polícia.
Quando foi preso, CL dirigia um jipe Cherokee 2003, com vidros escuros, registrado em nome de um conhecido traficante paraguaio: Ramón Dure. Carregava uma pistola, US$ 2.000 e o equivalente a R$ 2.000 em guaranis -moeda paraguaia. "Como vocês me encontraram aqui?", perguntou aos policiais assim que ouviu em português que seria levado ao Denarc em São Paulo.
Por 15 dias, policiais paulistas trabalharam com a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) paraguaia e o escritório da DEA para localizar o traficante em Assunção (leia texto nesta página).
CL estaria negociando cocaína diretamente com os guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas).
No meio dessa investigação, os policiais descobriram que o homem apontado como piloto de Beira-Mar, Silvio Berri Júnior, 45, também se escondia no Paraguai e mantinha contato com CL. Outro exilado, segundo autoridades paraguaias, seria Robinho Pinga, o Robson André da Silva, chefe do tráfico nas favelas de Bangu e Senador Camará, no Rio, e integrante do Terceiro Comando.
Para a Polícia Federal, o Paraguai é um "tradicional" refúgio para traficantes brasileiros. ""A ausência do Estado" na faixa da fronteira facilita a saída dos criminosos, segundo o delegado Getúlio Bezerra, responsável pela coordenação de prevenção e repressão a entorpecentes da PF.
O próprio Beira-Mar teria usado o Paraguai para chegar à Colômbia, quando fugiu do Brasil.
Hoje, segundo o delegado, tem havido colaboração entre as polícias dos dois países. Como exemplo, diz que a legislação paraguaia prevê a saída sumária dos brasileiros detidos com documentação falsa ou sem documentos.


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