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SEGURANÇA
Do país vizinho, Claudair Lopes, preso nesta semana, comandava rede de abastecimento de drogas para São Paulo, Minas e Rio
Traficante de SP monta base no Paraguai
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
O traficante mais procurado em
São Paulo, Claudair Lopes de Faria, 35, preso nesta semana no Paraguai, passou os últimos seis meses morando com a atual mulher
e um filho de seis anos em uma
conhecida região de veraneio às
margens de um lago, em São Bernadino, a 50 km de Assunção.
Foragido da Justiça brasileira
desde 95, CL (ou Claudinho) trocou de país depois que a polícia
paulista apertou o cerco contra
sua quadrilha, prendendo, em setembro, cinco pessoas, incluindo
um de seus irmãos. Na época, foram apreendidos 400 kg de cocaína e descobertos sítios que serviriam como base de distribuição.
Do país vizinho, usando telefone por satélite, ele estaria comandando uma rede de abastecimento de drogas para três Estados
-São Paulo, Minas Gerais e Rio
de Janeiro-, segundo o delegado
Ivaney Cayres de Souza, diretor
do Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos), da Polícia Civil paulista.
O caminho escolhido é o mesmo do traficante Leomar de Oliveira Barbosa, que se mudou para
Capitán Bado, na fronteira do Paraguai com Mato Grosso, depois
de ser resgatado em São Paulo
-fevereiro de 2001. O braço-direito de Luiz Fernando da Costa, o
Fernandinho Beira-Mar, ligado
ao Comando Vermelho, foi recapturado meses depois em uma
operação que envolveu as polícias
paraguaia, brasileira e a DEA
(agência antidrogas dos EUA).
Vivia em uma casa luxuosa, de
onde chefiava parte dos negócios
internacionais da quadrilha.
O local de exílio não teria sido
escolhido ao acaso, mas por estar
no meio da rota de escoamento da
produção colombiana, paraguaia
e peruana. Relatórios da polícia
americana estimam que entre 40 e
60 toneladas/ano de cocaína atravessam o Paraguai para abastecer
a Argentina, o Brasil, a Europa,
países da África e os EUA.
CL, que em grampos da polícia
brasileira afirma ser "compadre
de Beira-Mar", vivia discretamente em uma casa de 2.500 m2, com
cinco quartos, em uma região de
classe média-alta. Segundo a polícia, não tinha amigos no bairro e
usava documentos falsos. Todos
os dias, levantava cedo e viajava
sozinho para Assunção, onde visitava um hangar no aeroporto,
uma concessionária de veículos e
a imobiliária de um político paraguaio, de acordo com a polícia.
Quando foi preso, CL dirigia um
jipe Cherokee 2003, com vidros
escuros, registrado em nome de
um conhecido traficante paraguaio: Ramón Dure. Carregava
uma pistola, US$ 2.000 e o equivalente a R$ 2.000 em guaranis
-moeda paraguaia. "Como vocês me encontraram aqui?", perguntou aos policiais assim que
ouviu em português que seria levado ao Denarc em São Paulo.
Por 15 dias, policiais paulistas
trabalharam com a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) paraguaia e o escritório da DEA para
localizar o traficante em Assunção (leia texto nesta página).
CL estaria negociando cocaína
diretamente com os guerrilheiros
das Farc (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas).
No meio dessa investigação, os
policiais descobriram que o homem apontado como piloto de
Beira-Mar, Silvio Berri Júnior, 45,
também se escondia no Paraguai
e mantinha contato com CL. Outro exilado, segundo autoridades
paraguaias, seria Robinho Pinga,
o Robson André da Silva, chefe do
tráfico nas favelas de Bangu e Senador Camará, no Rio, e integrante do Terceiro Comando.
Para a Polícia Federal, o Paraguai é um "tradicional" refúgio
para traficantes brasileiros. ""A ausência do Estado" na faixa da
fronteira facilita a saída dos criminosos, segundo o delegado Getúlio Bezerra, responsável pela
coordenação de prevenção e repressão a entorpecentes da PF.
O próprio Beira-Mar teria usado o Paraguai para chegar à Colômbia, quando fugiu do Brasil.
Hoje, segundo o delegado, tem
havido colaboração entre as polícias dos dois países. Como exemplo, diz que a legislação paraguaia
prevê a saída sumária dos brasileiros detidos com documentação
falsa ou sem documentos.
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