São Paulo, quinta-feira, 08 de março de 2001

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VIOLÊNCIA

Chacina é a maior ocorrida no Estado neste ano; dono de assistência técnica de celulares foi atingido por 16 tiros

Seis pessoas são mortas dentro de loja em SP

DA REPORTAGEM LOCAL
DO AGORA SÃO PAULO

Seis pessoas morreram assassinadas dentro de uma loja de assistência técnica para celulares, em São Paulo, na maior chacina do ano registrada no Estado.
Os corpos foram encontrados no segundo andar do sobrado onde o estabelecimento funcionava, anteontem, por volta das 23h, na rua Clélia, região muito movimentada na Lapa (zona noroeste de São Paulo).
As vítimas, no entanto, estavam mortas desde a tarde, de acordo com a polícia. Vizinhos disseram ter ouvido barulho parecido com tiros às 16h, mas que não perceberam o que estava acontecendo.
O dono da assistência Lod Cell, Aires Roberto Soares de Carvalho, 22, foi atingido de perto, principalmente nas costas, pelo menos 16 vezes. A arma usada, segundo a polícia, é uma pistola calibre 9 milímetros, de uso restrito das Forças Armadas.
O irmão do comerciante, Alexandre Soares de Carvalho, 27, soldado da Polícia Militar, e sua mulher, Rosana Aparecida Silva, 24, também morreram. Além deles, a polícia encontrou mais três funcionários da loja mortos: Reinaldo de Oliveira Rocha, 28, Carlos Eduardo Fernandes, 22, e Luiz Augusto Borba Barão, 15. Todos levaram um tiro na cabeça.
A polícia investigava ontem duas hipóteses para a chacina, a oitava do ano no Estado. Desde janeiro, 30 pessoas morreram.
O crime pode ter sido provocado por uma desavença entre uma quadrilha especializada em clonar celulares e o dono da Lod Cell. ""As primeiras informações apontam para isso. A loja tinha vários aparelhos modernos, que poderiam ser usados para clonagem", disse o delegado que esteve no local, Laerte Marzagão Júnior, do DHPP (Departamento de Homicídio e de Proteção à Pessoa).
A outra é uma possível ligação entre o irmão do comerciante com o desvio de armas de um quartel da PM, na capital, descoberto no início do mês passado.
O soldado trabalhava no 12º Batalhão, uma das unidades sob investigação da Corregedoria por causa do sumiço de 21 pistolas, cinco revólveres e quatro metralhadoras. O principal suspeito de organizar o esquema fugiu.
Um dos cunhados do comerciante, o autônomo Vanderlei Eustáquio Fernandes, 34, discorda das hipóteses da polícia. ""Não sei se Carvalho estava metido com clonagem de celulares. Pelo que consta, ele não tinha problema com ninguém."
Um amigo do comerciante, que não se identificou, disse ter encontrado a porta da loja encostada, apesar do horário (23h), e resolveu entrar. No segundo andar, nos fundos, estavam os corpos.
Toda a família estava preocupada com o sumiço de Carvalho, seu irmão e sua cunhada. O PM, que estava de licença médica, saiu de casa pela manhã, avisando que iria ao médico e que depois pegaria a filha de 2 anos na escola. Ele não apareceu.
A polícia não sabia informar ontem quantos eram os assassinos. Mesmo os vizinhos, disseram não ter percebido nada de estranho na loja, a não ser o fato de ela ter ficado fechada à tarde. ""Muitas pessoas vieram perguntar por que a loja estava fechada, mas não dava para imaginar o que tinha acontecido", disse uma vizinha, que não quer ser identificada.
Os autores do crime podem ter usado silenciadores nas pistolas para abafar o som dos tiros. Além disso, a rua tem intenso movimento de veículos.



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