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Velório na TV inicia criança no ritual da morte
DA REPORTAGEM LOCAL
Irene acreditava que sua
mãe tinha virado estrela e
que viveria sempre. À noite,
o pai a segurava no colo e
juntos procuravam a estrela.
Irene tem 7 anos e tinha 4
quando a mãe morreu em
um acidente. Hoje, já sabe
que a mãe não voltará mais.
"Por algum tempo, ela
agarrou-se à esperança de
que a mãe voltaria, como
uma defesa para sua sobrevivência", diz a psicóloga
Luciana Mazorra. "Mas é
sempre importante dizer
que a pessoa não voltará."
Irene valeu-se da fantasia
da "estrela viva", criada pelo
pai, para superar a perda da
mãe. Mesmo os adultos às
vezes se valem de recursos,
geralmente associados à religião, lembram os especialistas. Acreditam que alguém
foi para o céu e que seu espírito continua presente.
A doença, a morte e o velório de Mário Covas, expostos
todos os dias na TV, foram
acompanhados por crianças
e adultos sentados no mesmo sofá -às vezes, no colo.
Para os especialistas, esse
velório, ao mesmo tempo
coletivo e familiar, é uma vivência importante para as
crianças. Ajudará a reduzir
sentimentos de culpa e facilitará o diálogo no caso de
morte na família. "As crianças tendem a se sentir responsáveis", diz Luciana Mazorra, que conclui mestrado
na PUC-SP sobre "fantasias
de crianças enlutadas".
No grupo de oito crianças
que perderam a mãe, o pai
ou os dois, todas se sentiam
culpadas. As menores, entre
3 e 6 anos, acreditavam que o
genitor ainda voltaria. As
maiores queriam acreditar
nisso. Rosa, hoje com 7 anos,
achava que um anjo tinha levado o pai ao céu, como dizia a mãe. Como nunca encontrou uma escada, vivia
angustiada.
A psicóloga Regina Trotto,
do Rio, diz que é importante
falar com acolhimento, mas
sem omitir os fatos. "A realidade de morte tem fim, o
imaginário da criança é infinito", afirma.
(KS e AB)
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