São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2006

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Associação de moradores diz temer tragédia

DA SUCURSAL DO RIO

O presidente da Associação dos Moradores do Complexo da Mangueira, José Roque Ferreira, usou a palavra "assustador" para definir o que sentiu quando, de manhã cedo, avistou um tanque de guerra com a mira voltada para a favela.
"Sou cria daqui, tenho 57 anos e nunca vi uma coisa dessas na Mangueira. Se praticarem violência como em operações passadas, a associação vai tomar todas as atitudes legais cabíveis", afirmou Ferreira.
De acordo com ele, a população das comunidades que formam o complexo da Mangueira (Telégrafo, Candelária, Olaria, Buraco Quente, Chalé e Eucalipto) teme uma tragédia. "O pessoal está com muito medo. Esses soldados não são preparados para entrar em morro", disse.
O Censo do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indica que, em 2000, havia 13.594 moradores na Mangueira.
Segundo o presidente da associação, não houve troca de tiros entre traficantes e militares na madrugada. "Eles atiraram neles mesmos. Um caminhão com parte da tropa caiu numa vala. Os soldados, assustados, acabaram atirando. Eles estão meio atrapalhados."
A versão de Ferreira foi contestada pelo porta-voz do CML, coronel Fernando Lemos. "Não houve isso", disse ele.
Iniciada no final da tarde anteontem, a ação do Exército revoltou os moradores. Eles disseram que, até as 19h, foram impedidos de entrar ou sair da Mangueira de carro. Como as Kombis comunitárias tiveram a circulação impedida, eles foram obrigados a subir o morro por vielas íngremes e escuras.
"Fiquei apavorada. Sou trabalhadora, cheguei do plantão supercansada e tive que subir a pé. É uma vergonha fazerem isso com os pobres", disse Maria Auxiliadora da Silva, 41, auxiliar de enfermagem.
Durante o dia, os militares distribuíram panfletos aos moradores pedindo que denunciassem "os bandidos e os locais de esconderijo das armas". (ST)


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