São Paulo, sexta, 8 de maio de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice EXPULSO DA CELA Ele diz que ao chegar à delegacia "não tinha nada' Detento com HIV mora com ratos
da Reportagem Local Jeremias Inácio dos Santos, o das feridas na pele, compreende a rejeição que o faz dormir sob a chuva, no pátio de delegacia. "Em cada barraco tem uns 30 ladrões. Eles não têm como viver com a gente, os doentes." "Barraco" é como os presidiários chamam as celas. No 7º DP, onde Jeremias vive há sete meses, existem cinco deles, divididos por 170 homens. No pátio, os doentes que despertam medo nos colegas repartem o espaço com o lixo e com os ratos. "Você está deitado e vê ratos passarem. São ratos grandes", diz Jeremias, que teve a face mudada pelas feridas. A pele coça e se desprende do rosto, das costas, das pernas. "Quando cheguei aqui, não tinha nada". Naqueles dias, dormia no "boi". O "boi" , cubículo nas celas onde fica a latrina, é reservado aos presos fracos, aos que não têm "moral na bandidagem". "Deu nisso", diz Jeremias. Portador do vírus causador da Aids, o HIV, ele não toma remédios para controlá-lo desde que foi detido pela polícia. "Quando estava na rua, tomava o coquetel. Na cadeia, parei, e apareceram as feridas." Com 28 anos, Jeremias está condenado pela segunda vez por roubo. Quando estava preso pelo mesmo motivo em 1994, teve o HIV constatado em um teste na Casa de Detenção de Parelheiros (zona sul). Solto em 1995, pegou tuberculose. "Tratei a doença durante nove meses. Estou curado", diz. Para tratar da pele, foi levado pelos policiais à enfermagem da Penitenciária do Estado, no Carandiru (zona norte). O médico, afirma, examinou-lhe o rosto, disse que estava bom, deu-lhe um comprimido e o mandou de volta ao pátio do 7º DP. "Mas eu me sinto péssimo. Fico muito tempo de pé, pois não tenho como deitar direito com o rosto assim, com o corpo assim", diz, e depois pergunta: "O senhor sabe quando o bonde (a transferência) vai sair?". Jeremias é um dos 50 presos que estão na lista de doentes que esperam uma transferência das delegacias superlotadas para penitenciárias, onde existem enfermarias. (MG) Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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