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Estrangeiros tratam Aids de graça no Brasil
Estimativa é que 1.209 doentes venham ao país em busca de atendimento e do coquetel anti-retroviral distribuído na rede pública
O custo de cada paciente tratado no Brasil é de cerca de US$ 2.500 (R$ 4.075) ao sistema de saúde; São Paulo é o destino mais procurado
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Num consultório de Assunção, uma infectologista dá nome e endereço de uma colega
brasileira a um paciente soropositivo doente de tuberculose
e desacreditado de que fosse
sobreviver no Paraguai. "Procure a doutora Denise Lotufo
em São Paulo", disse.
Depois de 20 e poucas horas
de uma viagem de ônibus, ele
desembarca no CRT (Centro de
Referência e Treinamento), um
ambulatório da rede pública especializado em HIV/Aids.
Lá, recebe tratamento gratuito e todos os medicamentos
anti-retrovirais, o chamado coquetel, que não é fornecido pelo
sistema de saúde paraguaio.
Assim como esse paciente
paraguaio, que por viver clandestinamente no Brasil pede
anonimato, ao menos 1.209
estrangeiros vêm e voltam ou
vieram e vivem no Brasil para
receber tratamento gratuito
contra a Aids, de acordo com o
Ministério da Saúde.
Só em São Paulo, que registra
o maior número de casos de
HIV no país, são 503 deles. No
Rio de Janeiro, há outros 242.
Os números, no entanto, estão subavaliados: nem todos os
centros de distribuição de remédios estão integrados ao sistema informatizado da pasta.
Segundo Eliana Gutierrez,
diretora da Casa da Aids, no
ambulatório do Hospital das
Clínicas há dois cenários: enquanto alguns estrangeiros migram para receber tratamento
gratuito, outros, que descobriram ser portadores do HIV por
aqui, não deixam o país para
não perder o benefício.
"Isso desperta paixões nos
pacientes brasileiros, que sentem que a pátria e eles são lesados", afirma Gutierrez.
"Se esses estrangeiros estão
no Brasil legalmente ou ilegalmente, essa não é uma questão
que vamos atrás", diz Mariângela Simões, diretora do programa de Aids do ministério.
Liderança
Na lista das nacionalidades
atendidas, Portugal e Argentina aparecem na liderança, com
181 e 158 pacientes, respectivamente, que recebem o coquetel
anti-Aids no país.
Além disso, revela Simões, o
Brasil trata 3.500 bolivianos na
Bolívia e 1.100 paraguaios no
Paraguai, ao doar medicamentos a esses países.
Por ano, cada paciente tratado no Brasil custa, em média,
US$ 2.500 (ou R$ 4.075) ao sistema público de saúde.
Infectologista do CRT, Denise Lotufo, que virou referência
no Paraguai por dar treinamento a profissionais de lá, começou a estudar espanhol para
atender pacientes daquele país.
Hoje, ela acompanha o tratamento de dez paraguaios. "Dois
deles passaram a morar no Brasil." Os outros vêm e voltam entre três e quatro vezes ao ano
para retirar remédios e fazer
exames de rotina, como a contagem da carga viral e das células do sistema imunológico.
Alguns países como EUA,
China e Colômbia, que estão
entre as nacionalidades atendidas gratuitamente no Brasil,
proíbem a entrada de portadores do HIV, mesmo que seja a
turismo e por curto tempo.
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