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HABITAÇÃO
Mais de 870 policiais se prepararam para ação, mas não houve resistência; ocupantes disseram que invasões continuarão
Sem-teto deixam terreno da Volks no ABC
CHICO DE GOIS
GILMAR PENTEADO
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
A tropa de choque foi preparada
para uma guerra, que não aconteceu. Mas o efeito visual de 800 policiais, mais 70 homens da cavalaria, 30 cães, dois helicópteros, 140
veículos e a informação do coronel Tomaz Alves Cangerana, comandante da tropa de choque, de
que não iria negociar fizeram com
que as cerca de 4.000 famílias que
ocupavam o terreno da Volkswagen desde o dia 19, em São Bernardo do Campo, deixassem o local sem resistência.
Ao saírem da área na região do
ABC paulista, muitos choraram e
diziam não ter para onde ir. Um
grupo de 300 pessoas, incluindo
várias crianças, decidiu dormir na
praça em frente à prefeitura.
Líderes do MTST (Movimento
dos Trabalhadores Sem Teto)
afirmaram que a retirada "não era
uma derrota" e disseram que as
invasões continuarão. "As ocupações vão aumentar, sim", disse
João Batista Costa, um dos líderes.
Uma parte das famílias utilizou
25 ônibus cedidos pela montadora para ir à igreja Jesus de Nazaré,
na Vila São José, bairro próximo
ao acampamento. A intenção do
movimento era permanecer no
local enquanto discutia-se uma
solução para o problema.
Quando chegaram à igreja, porém, o padre Sante Collina disse
que não fora informado de que os
sem-teto utilizariam o templo como abrigo. "Só se eu colocar gente
embaixo da minha cama", afirmou ele, que chegou a dar abrigo
em sua paróquia, em 1980, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
então perseguido político.
Sem o aval do padre, os sem-teto tiveram de abandonar o local.
Vários desabrigados já haviam retirado seus pertences dos ônibus e
colocado na calçada e tiveram de
recolocá-los nos veículos. Depois,
seguiram para o paço municipal.
Uma outra parte dos sem-teto
-cerca de 300 pessoas-, que
não havia seguido para a igreja,
permaneceu em frente ao terreno.
De lá, seguiu em passeata pelo
centro da cidade até o paço municipal, onde uma comissão foi recebida pelo prefeito Willian Dib
(PSB). Durante a passeata, a
maioria das lojas da rua Marechal
Deodoro, uma das principais da
cidade, fechou suas portas.
Enquanto os manifestantes iam
a pé, sete caminhões com sem-teto e seus pertences seguiam para o
paço quando foram desviados pela Polícia Militar.
No km 18 da rodovia Anchieta,
os sem-teto foram obrigados pelos PMs a sair dos veículos. Duas
bombas de efeito moral foram
usadas. Manifestantes foram
agredidos com cassetetes pelos
policiais (leia texto nesta página).
Boa parte das famílias que estavam acampadas no terreno da
Volkswagen, porém, acabou voltando para seus locais de origem,
nas favelas das redondezas ou na
casa de parentes.
Segundo a CDHU (Companhia
de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), que no dia anterior
fez um cadastro no qual contou
3.300 famílias e havia mais 800 senhas distribuídas, somente 300
delas não teriam para onde ir. As
demais moravam em favela ou
com parentes.
"Esse levantamento não merece
crédito. Faltou cadastrar pessoas e
não se sabe para qual foi a finalidade disso", disse Eliana Lúcia
Ferreira, advogada do MTST.
A informação de que a polícia
iria cumprir o mandado de segurança obtido pela empresa anteontem chegou no acampamento pouco antes das 6h, embora na
noite de anteontem as lideranças
do MTST já acreditassem que juridicamente não haveria mais nada a fazer para mantê-los na área.
Às 6h, a polícia fechou a rua. A
tropa de choque chegou às 8h.
"Vamos negociar somente o tempo para eles deixarem o local", informou o coronel Cangerana,
que, depois de falar com as lideranças do acampamento, concedeu 30 minutos para a saída. Antes de deixarem o local, alguns
barracos foram incendiados.
Às 15h, depois de a tropa de
choque entrar na área e destruir
as barracas já vazias, o terreno
voltou a ser da Volkswagen.
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