São Paulo, sexta, 8 de agosto de 1997.



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HABITAÇÃO
Para oposição, atitude pode abrir precedente perigoso e estimular a invasão como forma de obter a casa própria
Estado compra casarão para sem-teto

MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local

O governo do Estado anunciou ontem, em reunião com lideranças sem teto, que comprou da USP (Universidade de São Paulo), por R$ 175 mil, um conjunto de três imóveis na esquina das ruas Pirineus e Brigadeiro Galvão, em Campos Elíseos (centro de SP).
Eles serão repassados para os encortiçados, mas ainda não se sabe em que condições ou se os beneficiados serão os atuais moradores.
A compra do imóvel, invadido por encortiçados no último dia 2 de abril, foi consolidada anteontem. A CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) pagou entrada de 20% e negociou o pagamento do restante em 14 prestações sem juros.
Na opinião do secretário municipal da Habitação, Lair Krahenbuhl, e de deputados de oposição ao governo Covas, a atitude pode abrir um precedente perigoso e estimular a invasão como forma eficiente para a obtenção da casa própria (leia texto ao lado).
Na opinião do vice-presidente da CDHU, Lázaro Piunti, ex-prefeito de Itu por três mandatos, designado coordenador do Programa de Atuação em Cortiços (PAC), a compra do imóvel é o primeiro "ainda que paquidérmico" passo para fazer o projeto, há dois anos e meio na gaveta, sair do papel.
Ao mesmo tempo em que anunciou a compra, o governo estadual reafirmou, na reunião com os representantes dos movimentos de sem-teto, que a única alternativa para os encortiçados que invadiram o prédio da Secretaria da Fazenda, na rua do Carmo, é o Cetren. Eles estão instalados provisoriamente em uma escola estadual.
Flavio Patrício, chefe de gabinete da Secretaria da Casa Civil, designado pelo governo para comandar as negociações, disse que os sem-teto serão considerados invasores, caso não deixem a escola no prazo de três dias, que vence hoje.
Na opinião da ULC (Unificação das Lutas de Cortiços), o governo não está cumprindo parte do acordo firmado no último dia 5 para evitar uma reintegração de posse violenta, no qual se disporia a buscar alternativas de alojamento.

Histórico
A invasão das casas da USP foi feita por sem-teto despejados de um cortiço na rua Tomás de Lima, na Bela Vista, organizados pelo movimento Fórum dos Cortiços, coordenado por Verônica Kroll.
No dia seguinte à invasão, o grupo conseguiu da USP um acordo para que cada uma das 24 famílias invasoras pagasse um aluguel de R$ 50 por cômodo, por três meses.
O Fórum dos Cortiços tentou, sem sucesso, acordos para comprar o imóvel, até que obteve empenho do secretário de Estado da Habitação, Dimas Ramalho, que tratou pessoalmente do caso.



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