São Paulo, sexta, 8 de agosto de 1997.



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VIDA SUBTERRÂNEA
Sem-teto do Rio dividem espaço com ratazanas
Esgoto é moradia para dez pessoas

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

Uma galeria de escoamento de águas pluviais que desemboca no rio Maracanã (Tijuca, zona norte do Rio) serve de lar para dez pessoas, entre elas um bebê e duas crianças.
Coabitada por ratazanas, baratas e mosquitos, a galeria é inundada toda vez que chove. Com o aumento de volume do rio, os improvisados moradores ficam com esgoto na altura das canelas.
Duas famílias vivem na galeria. O caçula da comunidade é Clayton, 11 meses, filho dos desempregados Paulo Roberto da Silva, 55, e Rodinéia dos Santos, 34.
Com medo de um despejo, o casal mantém o bebê escondido no fundo da galeria, de 1,50 m de altura por 2 m de extensão.
As outras crianças que vivem ali são os irmãos Rafael, 8, e Rosana, 10, vendedores de balas em sinais de trânsito, como a irmã mais velha, Vanessa, 17.
Rosana, Rafael e Vanessa são filhos de Rosângela dos Santos Gomes, 36, e de Onofre Maximiliano de Oliveira, que está preso há 13 anos.
Rosângela vive com os filhos na galeria. Ela disse que a família saiu de Queimados (município na Baixada Fluminense) para morar nas ruas do Rio.
Segundo ela, todos viviam sob a marquise de uma agência bancária na Tijuca. "Um colega que morava nesse buraco foi embora e chamou a gente para morar aqui. Eu pedi uma casa na prefeitura, mas disseram que vai demorar", disse ela.

Caixas e latões
A galeria tem colchonetes, caixas improvisadas como móveis e latões servindo como panelas. Ela fica na altura do cruzamento entre a avenida Maracanã e a rua José Higino.
A higiene no local é inexistente. O rio Maracanã recebe esgoto sem tratamento de favelas populosas situadas nos morros do Borel, Andaraí e Formiga.
Para tomar banho, os moradores da galeria recorrem à água de uma torneira no vizinho prédio do Corpo de Bombeiros.
Fábio Santos, 14, é outro habitante do "buraco de esgoto", apelido dado à galeria pelos operários que trabalham na reforma da pavimentação da avenida.
O adolescente mora com duas amigas, também menores de 18 anos. Ele disse que ganha dinheiro vendendo cervejas em engarrafamentos.
A prefeitura não tem um levantamento atualizado sobre quantas pessoas moram nas ruas.
De acordo com a Secretaria Municipal de Habitação, pesquisa realizada há cinco anos mostrou que havia cerca de 3.000 sem-teto em toda a cidade.



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