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CRIANÇA
Os 10.070 abrigados na instituição consumiram, em junho, R$ 9,2 milhões -ou até R$ 1.864,59 per capita
Menor da Febem 'custa' 40 estudantes
ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local
O custo mensal de um menor internado na Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor),
em São Paulo, é três vezes maior
do que o de um preso do Estado e
quase 40 vezes superior ao de um
aluno da rede pública estadual.
Segundo o diretor administrativo da Febem, Lindolfo Vilasboas,
no último mês de junho, por
exemplo, o gasto com cada criança
carente de uma unidade da zona
leste de São Paulo foi de R$
1.864,59 (veja quadro ao lado).
Esse valor é 3,2 vezes maior do
que a Secretaria da Administração
Penitenciária gasta com cada preso do Estado -R$ 570,00 por mês.
O valor é ainda 38,8 vezes mais
alto do que o investido mensalmente em cada aluno da rede estadual -cerca de R$ 48 (dividindo-se por 12 o custo anual do estudante -R$ 570, segundo a Secretaria de Estado da Educação).
O gasto com os menores infratores é um pouco menor, já que eles
não demandam tantas refeições,
medicamentos e monitores como
os menores carentes, de 0 a 7 anos.
Adolescentes infratores, de 14 a
17 anos, internados nas unidades 1
e 15 do quadrilátero do Tatuapé
(zona sudeste de SP) consumiram,
em junho, investimento de R$
1.380,92 per capita.
Cada menor abrigado em um
dos seis internatos da Grande São
Paulo consumiu R$ 1.475,00 no
mesmo mês. O menor gasto foi
com os infratores recolhidos no
complexo da Imigrantes -onde
adolescentes deveriam ficar até 45
dias aguardando a medida socioeducativa do juiz.
Para cada um dos 929 menores
recolhidos no complexo -que
tem 320 vagas-, foram aplicados
R$ 973,58.
"O custo por menor diminui
quando se eleva a quantidade de
adolescentes em uma unidade.
Custos fixos (como número de
monitores, por exemplo) permanecem iguais", disse Vilasboas.
Os 10.070 menores abrigados em
todas as unidades da Febem do Estado consumiram da instituição,
em junho, R$ 9,2 milhões.
"Isso é um escândalo com o dinheiro público. Esses dados são
calamitosos, quase pornográficos.
Merecem uma apuração rigorosa", disse o promotor da Vara da
Infância e da Juventude Maurício
Antonio Ribeiro Lopes.
"A comparação desses valores
com os investimentos nos alunos
da rede pública estadual mostra
que, para o Estado, a repressão ao
menor é mais importante que sua
educação", disse o padre Júlio
Lancellotti, da Pastoral do Menor.
"Deveria se investir mais em escolas, que são os agentes preventivos da criminalidade infantil",
completou Lancellotti.
O promotor Lopes e o presidente
da Comissão de Direitos Humanos
da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), Jairo Fonseca, sugerem que parte do valor gasto pela Febem com os menores fosse repassado para as famílias carentes
para que elas pudessem oferecer
uma educação melhor aos filhos.
"A transferência de parte desse
dinheiro daria para auxiliar 60 mil
famílias", disse Lopes.
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