São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2006

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VÔO 1907/POR UM TRIZ

Consultor embarca em avião 3 dias após desistir do vôo da Gol

Em um período de três anos, Wellington Pípolos deixou por duas vezes de voar em um avião que se acidentou

Seu pai, aos 34 anos, também escapou com vida de queda de aeronave na região amazônica que matou seis pessoas

JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA

Três dias após desistir de voar no vôo 1907 da Gol, poucas horas antes de a aeronave partir de Manaus (AM) e se envolver no maior desastre da aviação brasileira, o consultor de empresas Wellington Pípolos, 37, já estava a bordo de outra aeronave para realizar mais uma de suas viagens.
Em um período de três anos, ele deixou por duas vezes de voar em um avião que se acidentou. Afora isso, em 1972, o pai do consultor, Manoel Pípolos, foi um dos três sobreviventes de um acidente aéreo em que seis pessoas morreram.
O consultor, na segunda-feira, embarcou em um vôo da TAM no aeroporto de Belém com destino a Goiânia, de onde retornou na sexta-feira.
"Não tive receio de embarcar. A gente não esquece o que ocorreu, ainda mais com a veiculação de notícias o tempo todo. Mesmo que não fosse viajar de novo, eu estaria lembrando."
No dia do acidente com a aeronave da Gol, Pípolos chegou a fazer reserva naquele vôo. "Estava com a passagem marcada de Manaus a Belém. Pelo excesso de escalas, resolvi mudar para o vôo que partia no sábado."
Assim que as notícias do sumiço da aeronave surgiram, familiares e amigos lhe telefonaram. "Ligaram para saber se havia embarcado." Pípolos ficou sabendo do desaparecimento do Boeing quando estava em um hotel em Manaus. "Fiquei chocado. Senti muito pela morte das pessoas e lamento profundamente o que aconteceu."
Em 2004, o consultor voaria em uma aeronave da empresa Rico, que caiu e matou 33 pessoas na região de Manaus.
Em maio daquele ano, com reserva no vôo da Rico, ele desmarcou a passagem uma semana antes do embarque.
"Me deu uma intuição e desisti. Tinha uma agenda de trabalho, mas resolvi modificar", disse Pípolos, separado e pai de uma garota de oito anos.
O pai do consultor, que morreu neste ano aos 69 anos, se acidentou na queda de uma aeronave que fazia a rota Marabá-Belém, aos 35 anos. "Ele ficou muito machucado, teve fraturas nas costelas e perfurações nos pulmões."
O consultor relatou não ser seguidor de nenhuma religião e disse que acredita em Deus. Para ele, o fato de ter escapado de dois acidentes não deve ser classificado como sorte.
"Sorte teria sido se eu tivesse ganhado na Sena, uma grande quantia em dinheiro. Eu ganhei duas vezes algo muito mais importante. Ganhei oportunidades de continuar a viver."


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