São Paulo, quarta-feira, 09 de janeiro de 2008

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GILBERTO DIMENSTEIN

Quinze quilômetros de fama

Passageiros de ônibus vão poder aproveitar a modorra do trânsito paulistano para virar fotógrafos

PARA ALIVIAR A claustrofobia que sentia em São Paulo, o estudante de arquitetura Klaus Mitteldorfd se refugiava nas praias ainda isoladas de Ubatuba, muitas das quais com difícil acesso de carro. Aprendeu a surfar e descobriu uma profissão. Começou a ganhar dinheiro não em cima das ondas, mas olhando para elas.
A partir da próxima semana, ele vai se dedicar à tarefa de fotografar a claustrofóbica São Paulo nos seus ambientes mais claustrofóbicos: dentro dos ônibus no horário do rush. "Vou aprender a ver a cidade de um ângulo totalmente novo."
Se a sua experiência der certo, passageiros de ônibus vão poder aproveitar a modorra do trânsito paulistano para virar fotógrafos, com direito a uma galeria para expor os próprios trabalhos.

 

O encanto pelo mar fez com que Klaus jogasse fora o diploma de arquitetura e se tornasse o primeiro fotógrafo brasileiro especializado em surfe. "Sou daqueles que têm amor e ódio da cidade. Amor porque é o cenário das minhas paixões e ódio por causa da falta de ar e de um horizonte."
A fotografia deu certo na vida do ex-futuro arquiteto, quando se dedicou menos às ondas e mais à fotografia de moda e publicidade. Isso significou contratos, inclusive no exterior, que o levaram a viver em cidades como Munique e Paris, com paradas freqüentes em Nova York e Milão. Garantiu também um espaço cativo em seu refúgio ao estresse paulistano: comprou uma casa em Ubatuba.
 

É um ângulo novo por dois motivos. O primeiro é que Klaus nunca tinha feito de São Paulo o seu cenário fotográfico. O segundo é que ele, há muito tempo, já não anda de ônibus.
"Só andava de ônibus quando era adolescente." Hoje ele tem 54 anos.
Klaus colocou na rota não só os pontos mais badalados da cidade, como Vila Madalena, Jardins, avenida Paulista ou os pontos históricos da região central, mas também os extremos da periferia.
"Estar numa posição mais alta vai produzir uma visão diferente." Assim como estar espremido talvez produza um ângulo diferente dos humanos na condição de passageiros, grudados ao fotógrafo.
 

O melhor ângulo dessa experiência é que o próprio ônibus vai se transformar numa galeria de arte em movimento para a exposição das fotos, exibidas numa televisão -as fotos serão mostradas periodicamente durante a programação da TVO, canal de mídia que funciona dentro dos ônibus de São Paulo.
A idéia, porém, é que o conhecido fotógrafo seja substituído por anônimos, munidos de seus celulares. Os passageiros serão convidados a registrar e a enviar suas imagens para serem exibidas, quando terão ao menos seus 15 quilômetros de fama.

gdimen@uol.com.br

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