São Paulo, quarta-feira, 09 de fevereiro de 2000


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Pesquisa e medo de prejuízos eleitorais fizeram Covas agir

KENNEDY ALENCAR
da Reportagem Local

O temor de prejudicar o PSDB na eleição municipal de outubro e a diminuição do apoio dos paulistanos ao sistema de lotações levou o governador de São Paulo, Mário Covas, a mudar de atitude e entrar na guerra dos perueiros.
A primeira medida foi aceitar se reunir hoje com o prefeito da capital, Celso Pitta, que tem pedido a ajuda de Covas para enfrentar os protestos de perueiros, que começaram no dia 20. O governador vinha se recusando a fazê-lo, dizendo ser atribuição da prefeitura fiscalizar lotações irregulares.
A segunda medida que marca a mudança de atitude foi intensificar a repressão aos perueiros. O governo estadual continua fora da fiscalização, mas aumentou o número de operações policiais para pegar motoristas que estejam envolvidos em crimes e que cometam infrações de trânsito.
A Folha apurou que auxiliares de Covas argumentaram com ele que a violência dos protestos dos perueiros (13 ônibus queimados, uma dezena de feridos e três mortos) transformava a questão também em um problema de segurança pública, o calcanhar-de-aquiles de sua gestão.
Em ano de eleição, o virtual candidato do PSDB, o vice-governador Geraldo Alckmin, seria prejudicado se o eleitor entendesse que Covas se recusou a enfrentar um problema grave. Alckmin, apesar de ter estrelado comerciais do PSDB, teve apenas 2% na última pesquisa Datafolha de sucessão.
Nos comerciais, Alckmin foi vendido como um político que fará na capital o que Covas fez no governo do Estado. Tucanos consideraram um tiro na candidatura a polêmica entre Covas e Pitta que começou no dia 25 de janeiro e que transmite a idéia de omissão.
A gota d"água veio com a pesquisa Datafolha publicada no domingo. Ela mostrou que, entre outubro de 97 e fevereiro deste ano, caiu de 79% para 65% a aprovação dos paulistanos ao sistema de lotações. Auxiliares persuadiram o governador a agir, mesmo com limitações legais.
O mais difícil, porém, não foi convencer o governador a intensificar as ações policiais -a Secretaria da Segurança Pública diz que elas já estavam planejadas-, mas marcar a reunião com Pitta.
Covas está contrariado com Pitta porque ele não cumpriu um compromisso que teria firmado: pôr dinheiro municipal no Rodoanel (anel viário de São Paulo).
Segundo auxiliares de Covas, o governador não considera o prefeito apenas uma ""vítima de Maluf", como disse publicamente diversas vezes, mas um mau administrador e pouco interessado em contrariar empresas de ônibus.
O governador estava disposto a se relacionar protocolarmente com o prefeito, mas, atendendo a um pedido de deputados e seguindo o raciocínio que o levou à guerra fiscal após discursar cinco anos contra ela, resolveu tratar dos perueiros para não passar a imagem de omisso.
Covas, um dos presidenciáveis do PSDB para 2002, surgiu como o mais mal avaliado no último ranking de dez governadores o Datafolha. Sabe que o naufrágio eleitoral de Alckmin e a persistência da avaliação ruim de sua gestão podem ser mortais para uma eventual pretensão presidencial.



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