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RACISMO
Familiar afirma que acompanhante de vítima correu e pode não ter condições de reconhecer o grupo
Amigo não viu agressores, diz sua mãe
SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local
O digitador Dário Pereira Netto,
34, tido pela polícia como a principal testemunha da morte do
adestrador de cães Edson Neris da
Silva, 35, não viu com clareza a fisionomia dos agressores e pode
não conseguir reconhecê-los.
A informação foi dada na noite
de ontem à Folha, por telefone,
pela mãe de Netto, a dona-de-casa Iracema do Carmo Netto, 62.
Ela recebeu ontem a intimação de
seu filho e afirmou que ele comparecerá para depor hoje.
Neris da Silva foi espancado até
a morte à 0h10 do último domingo na praça da República (centro
de SP). No momento do crime, ele
estava em companhia de Netto,
que conseguiu fugir e entrar na
estação de metrô da praça.
Quando o grupo de agressores
se afastou, o rapaz ajudou a socorrer o amigo à Santa Casa de Misericórdia e registrou a ocorrência
na polícia. Na ocasião, porém,
forneceu um endereço incorreto.
Três horas depois, com base em
relatos feitos por dois moradores
de rua, 18 pessoas foram detidas
sob acusação de terem participado do espancamento. Netto, porém, não foi mais localizado pela
polícia para reconhecê-los.
"Ele me disse que foi tudo rápido. Ele ficou nervoso e só pensou
em escapar. Não viu nada direito.
Sabe que eram carecas, mas não
viu a cara de ninguém. Imagina se
é você e uma amiguinha sua. Você
vai ficar ou vai correr?", indagou a
mãe do rapaz. "A mão de Deus
impediu que ele caísse no chão.
Deus fez com que meu filho escapasse desses pilantras."
De acordo com Iracema, Neris e
o filho dela conversavam na praça
quando um grupo de carecas os
cercou e passou a agredi-los.
A dona-de-casa disse não saber
de onde o filho vinha nem para
onde ia. "Ele é muito fechado. Só
vai falar amanhã (hoje) porque é
obrigado", disse Iracema.
O rapaz, segundo sua mãe, foi
atingido com um chute na barriga
e outro nas costas, mas conseguiu
ficar em pé e correr. "Ele é vítima
também. Viu menos do que os
tais mendigos", afirmou, referindo-se às testemunhas do caso.
Iracema não quis fornecer o endereço do filho -que é solteiro e
mora sozinho- e disse não saber
o motivo pelo qual a polícia não
tem o registro correto.
Ela confirmou a informação
fornecida à reportagem pela Credicard S.A., segundo a qual Netto
está afastado do trabalho desde
agosto de 98 e recebe pelo INSS
(Instituto Nacional do Seguro Social). "Ele digitava seis horas por
dia. Ficou com aquele problema
no ombro que parece tendinite.
Faz tratamento até hoje."
De acordo com o delegado
Francisco Missaci, titular do 3º
DP, se Netto depuser e confirmar
que também foi agredido, o grupo detido poderá ser indiciado
também sob acusação de tentativa de homicídio. Eles já são acusados de homicídio doloso e formação de quadrilha.
Anteontem, um homem se
apresentou espontaneamente à
polícia para relatar o que viu na
praça da República no domingo.
Seu nome, de acordo com o delegado Antônio Carlos Cândido
Araújo, será mantido em sigilo.
Ele afirmou, sempre segundo o
delegado, que viu a agressão e reconheceu os detidos pelas imagens veiculadas no "Fantástico"
da Rede Globo. Mais uma vez, os
presos não foram submetidos a
reconhecimento pessoal.
É a terceira testemunha ouvida
no caso. Os outros dois são moradores de rua que afirmaram que
as agressões contra homossexuais
e mendigos acontecem há pelo
menos três finais de semana.
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