São Paulo, sábado, 9 de maio de 1998

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"Hospitais devem testar os remédios"

BETINA BERNARDES
da Sucursal de Brasília

A secretária da Vigilância Sanitária, Marta Nóbrega, anunciou ontem que está recomendando a grandes compradores de medicamentos, principalmente hospitais, que testem os remédios antes de colocá-los em uso e que exijam dos distribuidores a comprovação de que são licenciados.
A medida foi determinada depois da morte do bebê Ana Carla de Souza Nascimento, de 9 meses, que tomou uma falsificação do antibiótico Trioxina comprada pela Santa Casa da Misericórdia de Valença (RJ).
O hospital adquiriu o remédio de um distribuidor que não tinha a licença exigida pela Vigilância Sanitária para funcionamento.
No Brasil, 80% dos medicamentos comercializados vão do detentor do registro -laboratório, fabricante ou o importador- para uma distribuidora do produto; 15% vão diretamente para grandes redes de farmácia e 5% diretamente para farmácias individuais ou hospitais.
O país tem registro de 14 mil itens de medicamentos, um mercado de R$ 10 bilhões anuais.
O fabricante do medicamento precisa estar autorizado pela Vigilância Sanitária e o remédio produzido deve estar registrado no Ministério da Saúde. O mesmo se aplica a importadores.
As distribuidoras de medicamentos também precisam de licença da Vigilância Sanitária para funcionarem.
"O problema é que a distribuidora pode comprar o medicamento de outra distribuidora. Nesse processo, acaba sendo comercializado produto de laboratório clandestino", diz Marta Nóbrega.
"Estamos querendo aumentar o vínculo da distribuidora com o detentor de registro", afirma.
Além disso, para o grande comprador final, como hospitais, a recomendação é que eles testem o produto em um dos 17 laboratórios oficiais (incluindo de universidades) espalhados pelo país.
Além da Trioxina, nos últimos meses a Vigilância Sanitária recebeu denúncias de falsificações dos antibióticos Triaxin e Cefoxitina e dos medicamentos usados no combate a câncer Granulokine e Androcur.
Os frascos foram encontrados nas cidades mineiras de Uberlândia, Barbacena e Varginha, Rio Claro (SP), São Paulo, Rio de Janeiro, Valença (RJ) e Porto Alegre.
"Quem falsifica um remédio está interferindo na vida da pessoa que faz uso dele. Caso de morte, por enquanto, só soubemos do bebê. Mas, uma pessoa que toma um remédio falso contra câncer certamente terá uma evolução da doença que não teria se o remédio fosse o verdadeiro", diz Marta.
Os novos controles devem ser especificados em portaria até a próxima quarta-feira.



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