São Paulo, quinta, 9 de julho de 1998

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DROGAS
Em 1992, eram 2 milhões de usuários, hoje, já são 30 milhões
Consumo de anfetaminas cresce 1.400% nos últimos cinco anos

ANDRÉ LOZANO
enviado especial a Porto Alegre

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
da Agência Folha, em Porto Alegre

O consumo de anfetaminas -entre elas, o ecstasy- cresceu no mundo 1.400% nos últimos cinco anos, segundo dado divulgado ontem pela ONU (Organização das Nações Unidas), em Porto Alegre.
Em 1992, eram 2 milhões de usuários de anfetaminas e, hoje, eles já somam 30 milhões.
O consumo desse tipo de droga foi o que mais aumentou nesta última década. Ele supera o número de usuários de cocaína -que são 13,3 milhões- e de heroína -8 milhões- durante esse mesmo período no mundo.
A anfetamina é uma droga sintética e estimulante que age sobre o sistema nervoso central, provocando, entre outros sintomas, hiperatividade, perda de sono, irritabilidade e taquicardia.
O número de usuários de anfetaminas divulgado pelo UNDCP (Programa das Nações Unidas para o Controle Internacional de Drogas) se refere ao consumo da droga produzida ilegalmente.
Não está incluído nessa somatória o consumo de anfetaminas legais -como, por exemplo, os remédios para emagrecer.

Combate difícil
O uso abusivo de anfetaminas legais -consumidas em quantidade superior à prescrita pelos médicos- atinge, nos dias de hoje, 227,4 milhões de pessoas.
O chefe de operações do UNDCP, Giovanni Quaglia, 47, que participa, em Porto Alegre, do 1º Congresso para Prevenção às Drogas no Trabalho e na Família, disse que a expansão da produção e do consumo de anfetaminas ilícitas preocupa por ser uma droga difícil de combater.
"Ela é produzida em laboratórios caseiros, a partir da compra de produtos químicos em farmácias. Qualquer estudante pode produzi-la na sua casa", disse o chefe de operações.
O presidente do Confen (Conselho Federal de Entorpecentes), Luiz Matias Flach, disse que fórmulas de produção desse tipo de droga sintética estão disponíveis, ilegalmente, na Internet.
"É uma droga que gera um lucro de 400% sobre o gasto inicial de produção. Ainda não temos evidência da produção de anfetaminas clandestinas no Brasil. No entanto, o país teve uma epidemia dessa droga nas décadas de 60 e 70. Muitos jovens morreram e alguns dos que sobreviveram se tornaram doentes mentais", disse o presidente Flach.
Ele afirmou que a possível entrada da anfetamina ilícita preocupa mais do que a provável chegada em grande volume da heroína.
"Devido à diversidade de fórmulas que estão surgindo, não há possibilidade de enquadramento legal dos traficantes, porque as substâncias químicas usadas na produção desse tipo de droga nem sempre estão listadas como ilícitas", afirmou Flach.



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