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São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2003

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VETERINÁRIA

Índice de melhora em problemas neurológicos, dos ossos, músculos e articulações chega a 80%, dizem especialistas

Acupuntura pode livrar animais da morte

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando tinha pouco mais de um ano, Tibor foi atropelado. Por causa do acidente, não conseguia andar e sofria de dores intensas.
Os médicos o haviam desenganado. Numa última tentativa, recorreu-se à acupuntura e, 16 sessões depois, ele não apenas escapou da morte como voltou a andar, e os incômodos cessaram.
Essa seria mais uma história sobre os benefícios da medicina tradicional chinesa, não fosse por um detalhe curioso: Tibor não é um bebê, mas um jovem mestiço de dálmata e setter inglês e foi tratado num hospital veterinário de Araruama (RJ).
Assim como ele, muitos animais, sobretudo domésticos, têm, por causa da acupuntura, deixado de ser sacrificados em consequência de doenças e dores crônicas.
O índice de melhoria nos casos de problemas neurológicos, dos ossos, músculos e articulações chega a 80%; o de cura vai de 60% a 70%. Para os mesmos problemas, a medicina convencional apresenta um percentual de melhora que varia em torno de 50%, segundo os veterinários Stelio Pacca Luna e Eduardo Cole.
Além de estudiosos do assunto, eles são os responsáveis pelos dois únicos serviços gratuitos de acupuntura veterinária do país: o do Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu (interior de SP) e o do ambulatório de acupuntura do Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco, respectivamente.
A acupuntura é indicada como tratamento para praticamente todos os problemas de saúde dos animais, mas sua eficácia é maior quando utilizada para tratar patologias osteomusculares. É usada também como anestésico.
Não é uma solução miraculosa e, em muitos casos, deve ser usada, inclusive, em associação com a medicina convencional. Em outros, porém, como os de dor de coluna e paralisia, é, muitas vezes, a única opção porque os remédios existentes não funcionam, têm eficácia parcial ou provocam efeitos colaterais muito fortes.

Benefícios
Com um ano, a schnauzer Lica, por exemplo, foi tratada de uma cinomose (infecção neurológica por vírus, comum em cachorros) com antibiótico, corticóide e imunoterápicos intravenosos. Curou-se da doença, mas só recuperou os movimentos normais da cabeça (afetados em consequência do problema) depois de 50 sessões de agulhadas.
Normalmente a eutanásia é indicada para cães que apresentam sequelas de cinomose.
"Acabamos pegando bichos que os outros veterinários não conseguiram curar, pacientes terminais mesmo, mas temos conseguido salvá-los", conta Cole. No ambulatório que dirige, cerca de 20 animais são atendidos toda terça-feira, de forma gratuita.
A inexistência dos efeitos colaterais e de contra-indicações (a acupuntura pode ser feita em qualquer animal, inclusive de grande porte, como cavalos) são os principais benefícios apontados pelos veterinários.
O procedimento também é praticamente indolor e, segundo Luna, relaxa tanto o animal que alguns acabam se "viciando".
"A partir da segunda aplicação, é geralmente muito fácil fazer. Já ouvi proprietários dizerem que, nos dias das sessões, os animais ficam alegres e praticamente pedem para colocar a coleira e sair. Muitos dormem durante a aplicação", diz o veterinário, que preside a Abravet (Associação Brasileira de Acupuntura Veterinária).

Técnica e filosofia
Se o animal tem resistência à perfuração com a agulha, os veterinários apelam para técnicas alternativas, menos invasivas, como a moxabustão e o laser.
Em vez das agulhas metálicas que são inseridas nos acupontos, a moxa é um bastão semelhante ao de incenso, feito de Artemisia vulgaris prensada, uma erva que, quando queimada, fornece estímulos térmicos. Ela é somente aproximada dos pontos de acupuntura tradicional. O mesmo ocorre com o laser.
Voltando aos métodos invasivos, é comum também usar em animais com problemas osteomusculares a eletroacupuntura: por meio das agulhas, uma leve corrente elétrica estimula determinadas áreas. Em outros casos, injetam-se nos acupontos produtos homeopáticos, vitaminas do complexo B e subdoses de medicamentos alopáticos.
As técnicas obedecem à mesma filosofia, segundo a qual curar é recuperar o equilíbrio do organismo, o que ocorre por meio da estimulação de determinados pontos, tidos como portas de entrada e saída de energia vital.
Os resultados costumam ser sentidos depois de quatro a seis meses de tratamento, geralmente com sessões semanais que duram entre 30 e 40 minutos. Alguns casos mais graves podem demorar até um ano para ser resolvidos; se a crise for pontual (aguda), as sessões podem ser mais frequentes.

Custos
Não é preciso ir a Pernambuco ou a Botucatu para tratar um animal pela acupuntura. As aplicações estão se popularizando entre as pet shops e hospitais veterinários de todo o país, dizem Cole e Luna. E os custos do tratamento, que podem parecer um obstáculo à primeira vista, compensam a longo prazo, afirma a veterinária Beatriz Nabuco, que tratou Tibor e Lica, no Rio de Janeiro.
"Algumas pessoas podem achar que é "frescura", mas a acupuntura está salvando vidas. Embora não seja um procedimento barato, muitos donos acham que vale a pena para manter seus animais."
A primeira consulta custa entre R$ 30 e R$ 50, e as sessões subsequentes variam de R$ 20 a R$ 30.


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