|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VETERINÁRIA
Índice de melhora em problemas neurológicos, dos ossos, músculos e articulações chega a 80%, dizem especialistas
Acupuntura pode livrar animais da morte
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando tinha pouco mais de
um ano, Tibor foi atropelado. Por
causa do acidente, não conseguia
andar e sofria de dores intensas.
Os médicos o haviam desenganado. Numa última tentativa, recorreu-se à acupuntura e, 16 sessões depois, ele não apenas escapou da morte como voltou a andar, e os incômodos cessaram.
Essa seria mais uma história sobre os benefícios da medicina tradicional chinesa, não fosse por
um detalhe curioso: Tibor não é
um bebê, mas um jovem mestiço
de dálmata e setter inglês e foi tratado num hospital veterinário de
Araruama (RJ).
Assim como ele, muitos animais, sobretudo domésticos, têm,
por causa da acupuntura, deixado
de ser sacrificados em consequência de doenças e dores crônicas.
O índice de melhoria nos casos
de problemas neurológicos, dos
ossos, músculos e articulações
chega a 80%; o de cura vai de 60%
a 70%. Para os mesmos problemas, a medicina convencional
apresenta um percentual de melhora que varia em torno de 50%,
segundo os veterinários Stelio
Pacca Luna e Eduardo Cole.
Além de estudiosos do assunto,
eles são os responsáveis pelos dois
únicos serviços gratuitos de acupuntura veterinária do país: o do
Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp (Universidade
Estadual Paulista) de Botucatu
(interior de SP) e o do ambulatório de acupuntura do Hospital
Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco, respectivamente.
A acupuntura é indicada como
tratamento para praticamente todos os problemas de saúde dos
animais, mas sua eficácia é maior
quando utilizada para tratar patologias osteomusculares. É usada
também como anestésico.
Não é uma solução miraculosa
e, em muitos casos, deve ser usada, inclusive, em associação com
a medicina convencional. Em outros, porém, como os de dor de
coluna e paralisia, é, muitas vezes,
a única opção porque os remédios
existentes não funcionam, têm
eficácia parcial ou provocam efeitos colaterais muito fortes.
Benefícios
Com um ano, a schnauzer Lica,
por exemplo, foi tratada de uma
cinomose (infecção neurológica
por vírus, comum em cachorros)
com antibiótico, corticóide e imunoterápicos intravenosos. Curou-se da doença, mas só recuperou os
movimentos normais da cabeça
(afetados em consequência do
problema) depois de 50 sessões de
agulhadas.
Normalmente a eutanásia é indicada para cães que apresentam
sequelas de cinomose.
"Acabamos pegando bichos
que os outros veterinários não
conseguiram curar, pacientes terminais mesmo, mas temos conseguido salvá-los", conta Cole. No
ambulatório que dirige, cerca de
20 animais são atendidos toda terça-feira, de forma gratuita.
A inexistência dos efeitos colaterais e de contra-indicações (a
acupuntura pode ser feita em
qualquer animal, inclusive de
grande porte, como cavalos) são
os principais benefícios apontados pelos veterinários.
O procedimento também é praticamente indolor e, segundo Luna, relaxa tanto o animal que alguns acabam se "viciando".
"A partir da segunda aplicação,
é geralmente muito fácil fazer. Já
ouvi proprietários dizerem que,
nos dias das sessões, os animais ficam alegres e praticamente pedem para colocar a coleira e sair.
Muitos dormem durante a aplicação", diz o veterinário, que preside a Abravet (Associação Brasileira de Acupuntura Veterinária).
Técnica e filosofia
Se o animal tem resistência à
perfuração com a agulha, os veterinários apelam para técnicas alternativas, menos invasivas, como a moxabustão e o laser.
Em vez das agulhas metálicas
que são inseridas nos acupontos,
a moxa é um bastão semelhante
ao de incenso, feito de Artemisia
vulgaris prensada, uma erva que,
quando queimada, fornece estímulos térmicos. Ela é somente
aproximada dos pontos de acupuntura tradicional. O mesmo
ocorre com o laser.
Voltando aos métodos invasivos, é comum também usar em
animais com problemas osteomusculares a eletroacupuntura:
por meio das agulhas, uma leve
corrente elétrica estimula determinadas áreas. Em outros casos,
injetam-se nos acupontos produtos homeopáticos, vitaminas do
complexo B e subdoses de medicamentos alopáticos.
As técnicas obedecem à mesma
filosofia, segundo a qual curar é
recuperar o equilíbrio do organismo, o que ocorre por meio da estimulação de determinados pontos, tidos como portas de entrada
e saída de energia vital.
Os resultados costumam ser
sentidos depois de quatro a seis
meses de tratamento, geralmente
com sessões semanais que duram
entre 30 e 40 minutos. Alguns casos mais graves podem demorar
até um ano para ser resolvidos; se
a crise for pontual (aguda), as sessões podem ser mais frequentes.
Custos
Não é preciso ir a Pernambuco
ou a Botucatu para tratar um animal pela acupuntura. As aplicações estão se popularizando entre
as pet shops e hospitais veterinários de todo o país, dizem Cole e
Luna. E os custos do tratamento,
que podem parecer um obstáculo
à primeira vista, compensam a
longo prazo, afirma a veterinária
Beatriz Nabuco, que tratou Tibor
e Lica, no Rio de Janeiro.
"Algumas pessoas podem achar
que é "frescura", mas a acupuntura
está salvando vidas. Embora não
seja um procedimento barato,
muitos donos acham que vale a
pena para manter seus animais."
A primeira consulta custa entre
R$ 30 e R$ 50, e as sessões subsequentes variam de R$ 20 a R$ 30.
Texto Anterior: "Não aguento mais essa vida" Próximo Texto: Tratamento surgiu há 3.700 anos Índice
|