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"MANÍACOS DO PARQUE'
Pesquisas revelam que agressor é considerado normal e não tem nível socioeconômico definido
Estuprador em série não tem classe social
LUCIA MARTINS
da Reportagem Local
O estuprador "em série" é considerado normal pelos amigos e
pela família, trabalha, é casado,
não tem antecedentes criminais e
pertence a todas as classes sociais.
Mas periodicamente ataca mulheres jovens e solteiras, quase sempre nos mesmos lugares.
Esse é o perfil da maioria dos
"agressores desconhecidos", segundo duas pesquisas realizadas
em São Paulo. Ele é semelhante ao
do maníaco do parque do Estado,
a não ser por duas características.
O maníaco prefere seduzir em vez
de fazer ameaças e, em vez de soltá-las após o estupro, mata.
Uma das pesquisas acaba de ficar pronta e será publicada em
uma revista científica em setembro. Analisou cerca de 400 casos
de estupro atendidos no Centro de
Referência da Saúde da Mulher
(região central de SP). A outra estudou 50 processos e cem acórdãos (decisão judicial dada após
um recurso) de estupros e foi
transformada no livro intitulado
"Estupro: Crime ou "Cortesia'?"
Nos processos e acórdãos, a
maioria atacava menores de 18
anos (70%), tinha entre 22 e 40
anos (78%), era casada (54%), não
tinha antecedentes criminais
(62%) e trabalhava (quase 100%).
No hospital, a média de idade das
vítimas é maior (21,3 anos) e 90%
são solteiras.
"Os agressores são pessoas descritas como normais. Não são necessariamente bandidos ou pobres", diz o coordenador do serviço de abuso sexual do centro de
referência, Jefferson Drezett.
Pelas estatísticas, a maioria dos
estupradores mora na periferia
(90% na do centro de referência) e
não completou o 1º grau (70%, segundo o livro). O estuprador de
classes média e alta representa, no
hospital, só 9% dos casos.
Um exemplo de um maníaco de
classe média com comportamento
semelhante ao do parque do Estado é o de um engenheiro que simulava sequestros, levava meninas vendadas para seu escritório
no centro de São Paulo e as estuprava. Casado, com dois filhos, ele
foi preso pela equipe da delegada
da mulher Márcia Salgado, após
ser reconhecido por três vítimas.
"O que chega à polícia são os casos das classes baixas. O que ocorre é que as classes mais altas resolvem o problema de forma privada", afirma Ana Lúcia Schritzmeyer, uma das autoras do livro.
A "forma mais privada" são os
consultórios médicos. O psiquiatra Hélio Martins Filho conta que
a maioria das pessoas que procura
a sua ajuda não vai à polícia. Ele
cita o caso de uma advogada que
foi estuprada quando saía de uma
festa e não contou para ninguém.
"Ela me procurou como, no passado, as pessoas procuravam um
padre, para se confessar."
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