São Paulo, domingo, 9 de agosto de 1998

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"MANÍACOS DO PARQUE'
Pesquisas revelam que agressor é considerado normal e não tem nível socioeconômico definido
Estuprador em série
não tem classe social

LUCIA MARTINS
da Reportagem Local

O estuprador "em série" é considerado normal pelos amigos e pela família, trabalha, é casado, não tem antecedentes criminais e pertence a todas as classes sociais. Mas periodicamente ataca mulheres jovens e solteiras, quase sempre nos mesmos lugares.
Esse é o perfil da maioria dos "agressores desconhecidos", segundo duas pesquisas realizadas em São Paulo. Ele é semelhante ao do maníaco do parque do Estado, a não ser por duas características. O maníaco prefere seduzir em vez de fazer ameaças e, em vez de soltá-las após o estupro, mata.
Uma das pesquisas acaba de ficar pronta e será publicada em uma revista científica em setembro. Analisou cerca de 400 casos de estupro atendidos no Centro de Referência da Saúde da Mulher (região central de SP). A outra estudou 50 processos e cem acórdãos (decisão judicial dada após um recurso) de estupros e foi transformada no livro intitulado "Estupro: Crime ou "Cortesia'?"
Nos processos e acórdãos, a maioria atacava menores de 18 anos (70%), tinha entre 22 e 40 anos (78%), era casada (54%), não tinha antecedentes criminais (62%) e trabalhava (quase 100%). No hospital, a média de idade das vítimas é maior (21,3 anos) e 90% são solteiras.
"Os agressores são pessoas descritas como normais. Não são necessariamente bandidos ou pobres", diz o coordenador do serviço de abuso sexual do centro de referência, Jefferson Drezett.
Pelas estatísticas, a maioria dos estupradores mora na periferia (90% na do centro de referência) e não completou o 1º grau (70%, segundo o livro). O estuprador de classes média e alta representa, no hospital, só 9% dos casos.
Um exemplo de um maníaco de classe média com comportamento semelhante ao do parque do Estado é o de um engenheiro que simulava sequestros, levava meninas vendadas para seu escritório no centro de São Paulo e as estuprava. Casado, com dois filhos, ele foi preso pela equipe da delegada da mulher Márcia Salgado, após ser reconhecido por três vítimas.
"O que chega à polícia são os casos das classes baixas. O que ocorre é que as classes mais altas resolvem o problema de forma privada", afirma Ana Lúcia Schritzmeyer, uma das autoras do livro.
A "forma mais privada" são os consultórios médicos. O psiquiatra Hélio Martins Filho conta que a maioria das pessoas que procura a sua ajuda não vai à polícia. Ele cita o caso de uma advogada que foi estuprada quando saía de uma festa e não contou para ninguém. "Ela me procurou como, no passado, as pessoas procuravam um padre, para se confessar."




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