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O pavor `Anestesia´, afirmam vítimas
PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local
Apesar do crescente pavor, as vítimas de atos de violência sexual
são tomadas por um um sentimento de "anestesia", um tipo de
defesa natural para diminuir o sofrimento durante o estupro.
"As pessoas perguntam por que
eu não reagi, o que me enfurece.
Eu só pensava em sobreviver. Me
senti anestesiada, não conseguia
falar ou me mexer. É como se eu
não estivesse dentro do meu corpo", conta Fátima (nome fictício), 32, vítima do "maníaco da
Aclimação", que atacou cinco
mulheres na zona sudoeste de São
Paulo no início deste ano.
Outras vítimas de violência sexual ouvidas pela Folha relataram
sentimentos muito semelhantes. A
"anestesia", no entanto, não diminui o desespero, que cresce a
cada minuto, segundo elas.
Durante o ato, todas contam que
choravam muito e tentavam ocupar a cabeça rezando. Pensavam
na família e engoliam a raiva como
questão de sobrevivência.
"A proximidade da morte faz a
gente relembrar pessoas queridas,
o que nos dá forças para aguentar
tudo", diz a recepcionista G.A.,
20, estuprada na última terça-feira
pelo "maníaco do Jabaquara",
que teria cometido outros quatro
estupros na região. "É a maior
humilhação que uma pessoa pode
passar na vida. A dor física passa,
mas a moral fica."
G. foi levada a um terreno baldio, onde foi obrigada a fazer sexo
oral e anal sob ameaça de morte.
"Enquanto me levava ao local, me
ofereceu cigarro com naturalidade
e ainda ficou irritado porque eu
não aceitei", conta. "É impressionante a frieza desse doente
mental", afirmou.
O fantasma da violência sexual
ronda as vítimas por muito tempo. O maior pavor, contam, é o
medo de ter adquirido alguma
doença sexualmente transmissível. "Seis meses depois, continuo
fazendo exames para confirmar
que não tenho nada mesmo", diz
a estudante J.G., 20, outra vítima
do "maníaco do Jabaquara".
Nos dias posteriores ao estupro,
J. conta que dormia na sala de seu
apartamento com a TV ligada e
com uma faca ao lado. "Fiquei
com mania de perseguição."
As consequências, para Fátima,
também se estendem até hoje. Ela
desconfia de qualquer homem
desconhecido, inclusive em bares
que frequenta. "É complicado até
para paquerar. Não acredito que
alguém que passe por essa situação volte ao normal algum dia."
Fátima e J.C. -uma profissional
bem sucedida e outra estudante
universitária-, mulheres de classe média, são exceções entre aquelas que denunciam a violência
(leia texto acima).
"O que eu mais queria era ver
esse homem preso para que outras
mulheres não sofressem o que sofri", diz Fátima.
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