São Paulo, domingo, 9 de agosto de 1998

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O PERIGO MORA AO LADO 3
Contaminação pode ser evitada se a vítima procurar auxílio médico e tomar coquetel de drogas
Risco de Aids é 20 vezes
maior em estupro

da Reportagem Local

O risco de uma mulher ser contaminada com o vírus da Aids após um estupro é até 20 vezes maior do que o que ela corre quando mantém uma relação sexual única não-violenta.
Esse é o resultado de uma pesquisa realizada pelo Centro de Referência da Saúde da Mulher. No universo de cerca de 400 mulheres atendidas, 1,6% delas foi contaminada. Em uma relação única sem violência, essa taxa é de 0,08%.
Essa contaminação pode ser evitada pela mulher que foi estuprada se ela procurar um serviço de saúde nas primeiras 48 horas após o estupro. Pesquisas mostram que o uso do coquetel de drogas anti-Aids pode evitar a transmissão do vírus em até 80% dos casos.
Levantamento feito pelo Centro de Referência da Saúde da Mulher com 140 mulheres que tomaram os remédios mostra que 70 continuaram negativas seis meses após o estupro. As restantes também continuam negativas, mas ainda não completaram os seis meses necessários para se ter segurança sobre o resultado do teste.
O grande problema é que o coquetel de drogas deve ser tomado por um mês e causa várias reações desagradáveis -náuseas, enjôos etc. Por causa desses efeitos, a taxa de desistência é de 25%.
"Mesmo assim, elas costumam insistir no uso porque sabem que essas drogas -por pior que sejam os efeitos colaterais- podem evitar a contaminação", diz o coordenador do serviço de abuso sexual do centro, Jefferson Drezett.
O método para evitar a contaminação é o mesmo usado pelos profissionais de saúde que, por acidente, entram em contato com o HIV. "A tese que afirma que o uso desses remédios nas vítimas pode ser inútil é absurda porque o risco delas é muito maior que, por exemplo, o dos médicos, que é de apenas 0,008%."
Além da Aids, quase todas as doenças sexualmente transmissíveis (sífilis, gonorréia etc.) podem ser evitadas se a mulher procura um serviço médico com urgência. Até a hepatite B pode ser evitada se a vítima tomar uma dose de HIBG (uma droga que custa R$ 700 a dose, mas está disponível no centro).
Por fim, a mulher deve procurar atendimento para evitar uma gravidez. Tomada até 72 horas depois do estupro, a pílula do dia seguinte garante uma taxa de quase 100% de eficácia. No centro, 230 mulheres já usaram a pílula e não ficaram grávidas. (LUCIA MARTINS)


O Centro de Referência da Saúde da Mulher fica na avenida Brigadeiro Luís Antonio, 849, região central de SP, tel. (011) 232-3433 ou 3105-5041


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