|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O PERIGO MORA AO LADO
Psiquiatras afirmam que estuprador não se sente doente e vive entre o normal e o patológico
Identificar maníaco
pode ser impossível
MALU GASPAR
da Reportagem Local
Você pode estar convivendo
com um maníaco sem perceber.
Maníacos que agem como o que
matou oito mulheres no parque
do Estado costumam ter um comportamento normal e socialmente
aceitável em outros setores, com
exceção do sexual.
"A única forma de identificá-los
é quando são pegos, porque eles
agem normalmente e não procuram o terapeuta porque não se
sentem doentes", diz Mary Alves
de Miranda, psiquiatra do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo.
"Indivíduos fronteiriços" é como os define o psiquiatra forense e
membro titular da Academia Paulista de Medicina Guido Palomba.
Para ele, estupradores como o maníaco do parque estão na fronteira
que separa o que é normal e o que
é patológico. Por não serem exatamente doentes mentais, são chamados de condutopatas -pessoas
com distúrbio de conduta.
"Essas pessoas sentem prazer
em agredir e matar as vítimas. São
normais, frequentam grupos sociais e, de repente, saem deste momento para a total liberação de sua
anormalidade mental", diz.
Filme
O psiquiatra afirma que os "maníacos" não se sentem culpados e
não têm consciência de sua
"anormalidade".
"Quando estão agindo, eles sabem o que estão fazendo, mas se
sentem como um autor-ator no
próprio filme. Quando acaba, é
como se o filme também houvesse
terminado."
Além dessa característica, o fato
de os estupradores agirem sempre
da mesma forma, nos mesmos lugares e atacando um grupo específico de vítimas faz com que a ação
desses maníacos pareça um roteiro. "Eles testam e refinam seus
hábitos até que criam estilo próprio. Investigam o local, escolhem
o público, a hora ideal e a forma de
se aproximar de suas vítimas, como os predadores", diz Mary.
O estilo desenvolvido por esses
"fronteiriços" geralmente é composto por práticas sexuais e de
agressão geralmente fora do usual.
Isso porque, na infância, segundo
os psiquiatras, essas pessoas sofreram algum tipo de abuso sexual ou
violência, o que é sempre um
componente do distúrbio mental.
Um distúrbio impossível de ser
curado, concordam os terapeutas.
"Como perito já analisei mais de
mil criminosos e acompanhei
muitos casos como o desses maníacos, e só vi três serem reabilitados pelo sistema prisional", diz o
perito psiquiátrico Marco Antônio
Beltrão, do Imesc (Instituto de
Medicina Social e Criminologia do
Estado de São Paulo).
Palomba vai mais longe. "É
mais fácil tratar um doente mental. Indivíduos como esses não
têm cura."
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|