São Paulo, domingo, 9 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O PERIGO MORA AO LADO
Psiquiatras afirmam que estuprador não se sente doente e vive entre o normal e o patológico
Identificar maníaco
pode ser impossível

MALU GASPAR
da Reportagem Local

Você pode estar convivendo com um maníaco sem perceber. Maníacos que agem como o que matou oito mulheres no parque do Estado costumam ter um comportamento normal e socialmente aceitável em outros setores, com exceção do sexual.
"A única forma de identificá-los é quando são pegos, porque eles agem normalmente e não procuram o terapeuta porque não se sentem doentes", diz Mary Alves de Miranda, psiquiatra do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo.
"Indivíduos fronteiriços" é como os define o psiquiatra forense e membro titular da Academia Paulista de Medicina Guido Palomba. Para ele, estupradores como o maníaco do parque estão na fronteira que separa o que é normal e o que é patológico. Por não serem exatamente doentes mentais, são chamados de condutopatas -pessoas com distúrbio de conduta.
"Essas pessoas sentem prazer em agredir e matar as vítimas. São normais, frequentam grupos sociais e, de repente, saem deste momento para a total liberação de sua anormalidade mental", diz.

Filme
O psiquiatra afirma que os "maníacos" não se sentem culpados e não têm consciência de sua "anormalidade".
"Quando estão agindo, eles sabem o que estão fazendo, mas se sentem como um autor-ator no próprio filme. Quando acaba, é como se o filme também houvesse terminado."
Além dessa característica, o fato de os estupradores agirem sempre da mesma forma, nos mesmos lugares e atacando um grupo específico de vítimas faz com que a ação desses maníacos pareça um roteiro. "Eles testam e refinam seus hábitos até que criam estilo próprio. Investigam o local, escolhem o público, a hora ideal e a forma de se aproximar de suas vítimas, como os predadores", diz Mary.
O estilo desenvolvido por esses "fronteiriços" geralmente é composto por práticas sexuais e de agressão geralmente fora do usual. Isso porque, na infância, segundo os psiquiatras, essas pessoas sofreram algum tipo de abuso sexual ou violência, o que é sempre um componente do distúrbio mental.
Um distúrbio impossível de ser curado, concordam os terapeutas.
"Como perito já analisei mais de mil criminosos e acompanhei muitos casos como o desses maníacos, e só vi três serem reabilitados pelo sistema prisional", diz o perito psiquiátrico Marco Antônio Beltrão, do Imesc (Instituto de Medicina Social e Criminologia do Estado de São Paulo).
Palomba vai mais longe. "É mais fácil tratar um doente mental. Indivíduos como esses não têm cura."



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.