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Fato de ser mulher ajuda a conquistar
a confiança dos suspeitos
Perita diz que adora profissão e
trabalha onde sempre sonhou
da Reportagem Local
Quando prestou vestibular, aos
17 anos, para fonoaudiologia,
biologia e física ao mesmo tempo, a perita criminal Jane Belucci
não imaginava que, 21 anos depois, estaria no meio da mata do
parque do Estado e que teria sua
imagem gravada por câmeras de
TV enquanto tentava tirar o anel
da mão de uma das oito vítimas
do maníaco encontradas no local.
Nem pensaria que, ao voltar para casa exausta, com fome e suja,
se sentiria realizada. Depois de 16
anos de profissão, Jane, 38, ainda
perde horas de sono tentando reconstituir crimes. E confessa que
não contém a vaidade quando assina um laudo e encerra um caso
"com chave de ouro".
"Dificilmente erro na minha
primeira impressão sobre o desfecho de um crime", diz Jane,
que afirma adorar a profissão e
trabalhar onde sempre sonhou
-o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, DHPP.
O pai, delegado aposentado,
deu o pontapé inicial na carreira
de Jane ao matricular a filha, sem
consultá-la, no curso de biologia.
"Eu queria ser investigadora e
até passei em concurso para delegada, mas meu pai falava que os
peritos são a nata da polícia."
Ela diz que não planeja o mesmo futuro para a filha Giuliana, 9.
Mas acha que ela também vai acabar sendo perita. "Outro dia cheguei em casa e ela veio me contar
"mãe, acabou de aparecer na TV
um homem com ferimento de
uma (arma calibre) 12'. Fiquei
pasma. Não temos arma em casa
nem assistimos programas violentos, mas ela presta atenção em
tudo e gosta do assunto", conta.
O marido de Jane também é policial, instrutor de tiro. O filho
Gustavo, 12, parece ser o único da
família que não seguirá a carreira.
"Ele tem horror a sangue".
Junto com Jane trabalham outras duas mulheres entre 25 peritos. Ela diz que no começo, quando era a única perita mulher do
DHPP, teve medo de não ser aceita entre os colegas. Mas acha que
hoje o fato de ser mulher lhe garante vantagens, principalmente
na hora de conquistar a confiança
dos suspeitos nas reconstituições.
"Não faço o gênero durona.
Converso muito com as famílias
dos presos e sempre acabo me
emocionando." Às vezes, a emoção gera constrangimento, como
quando um rapaz de 18 anos que
negava autoria de um crime não
resistiu e chorou no ombro da
perita, ao admitir a culpa durante
uma reconstituição.
A proximidade com os criminosos e com os cadáveres -que
diz adorar e tratar com respeito- e a dedicação ao trabalho
não impediram que Jane descuidasse da vaidade e da vida familiar. Ela faz musculação, vai ao
cabeleireiro e à maquiadora todas
as sextas-feiras, único dia em que
não vai ao DHPP. Às vezes ainda
tem tempo para buscar os filhos
na escola. De vez em quando, o
esquema falha. "Já cheguei a esquecer meus filhos na escola",
diz. "Mas minha mãe quebrou o
galho."
(MALU GASPAR)
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