|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Visita precisa ser 'autorizada'
DA SUCURSAL DO RIO
Não é mera formalidade a recomendação de ligar para a associação de moradores antes de visitar
uma favela. Ontem, a reportagem
foi desaconselhada a entrar no
morro do Salgueiro (zona norte).
Um diretor da associação disse
que era preciso ter ligado com pelo menos três ou quatro dias de
antecedência. "Eu preciso avisar
ao "pessoal" que vem uma rapaziada aqui, explicar o que é, você me
entende, né? Eu até poderia ir
acompanhando vocês, mas é que,
se a polícia bater aqui, vai sujar
para o meu lado. Até provar que
não tem nada a ver uma coisa
com a outra...", disse o diretor.
No Vidigal (zona sul), as iniciais
C.V. (Comando Vermelho, uma
das principais quadrilhas do tráfico de drogas no Rio) estão logo na
subida para o Varandão Rose's
Bar. Depois, é subir uma rampinha e relaxar no boteco, com uma
vista maravilhosa para o mar e as
praias do Leblon e de Ipanema.
"Tem gente que tem medo, preconceito. Mas pode vir. Andar
aqui é a mesma coisa que andar lá
embaixo. Se você mexer com alguém na rua, ou numa danceteria, vai ter tumulto. Aqui é a mesma coisa", disse a dona do bar,
Rosângela Lima da Silva, 34.
Rose, como é mais conhecida,
diz que, às vezes, aparecem uns
"gringos" em seu boteco. "Tem
uma holandesa que sempre passa
aqui quando vem ao Brasil. Tem
argentino também. Mas eles sentam na beira do varandão e só ficam olhando para o mar", disse.
O Bar da Lili, na Mangueira (zona norte), é um cubículo. Não cabem mais do que seis pessoas sentadas. A extensão do bar é a calçada, onde há mais mesas.
"A clientela de fora do morro é
de gente que trabalha no IBGE,
aqui perto. Mas tem os turistas estrangeiros, que vêm para os ensaios da escola. Só bebem uma
água ou refrigerante. Não comem
nada", conta a dona do bar, Vanderli Ladeira, 35, a Lili.
É por ali que se pode encontrar
figuras folclóricas, como Ézio
Laurindo da Silva, 78, o Delegado,
o mais famoso mestre-sala da história da Mangueira.
"O bar é meu escritório. Mas esse livro está esquecendo dos botecos que todo mundo aqui frequenta. A Velha Guarda só se reúne no bar do Damião, na rua Olaria, que sempre foi o melhor", diz.
Texto Anterior: Roteiro estimula turismo nos morros Próximo Texto: Letras jurídicas - Walter Ceneviva: Pimenta na boca dos outros Índice
|