São Paulo, sábado, 09 de setembro de 2000

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Visita precisa ser 'autorizada'

DA SUCURSAL DO RIO

Não é mera formalidade a recomendação de ligar para a associação de moradores antes de visitar uma favela. Ontem, a reportagem foi desaconselhada a entrar no morro do Salgueiro (zona norte).
Um diretor da associação disse que era preciso ter ligado com pelo menos três ou quatro dias de antecedência. "Eu preciso avisar ao "pessoal" que vem uma rapaziada aqui, explicar o que é, você me entende, né? Eu até poderia ir acompanhando vocês, mas é que, se a polícia bater aqui, vai sujar para o meu lado. Até provar que não tem nada a ver uma coisa com a outra...", disse o diretor.
No Vidigal (zona sul), as iniciais C.V. (Comando Vermelho, uma das principais quadrilhas do tráfico de drogas no Rio) estão logo na subida para o Varandão Rose's Bar. Depois, é subir uma rampinha e relaxar no boteco, com uma vista maravilhosa para o mar e as praias do Leblon e de Ipanema.
"Tem gente que tem medo, preconceito. Mas pode vir. Andar aqui é a mesma coisa que andar lá embaixo. Se você mexer com alguém na rua, ou numa danceteria, vai ter tumulto. Aqui é a mesma coisa", disse a dona do bar, Rosângela Lima da Silva, 34.
Rose, como é mais conhecida, diz que, às vezes, aparecem uns "gringos" em seu boteco. "Tem uma holandesa que sempre passa aqui quando vem ao Brasil. Tem argentino também. Mas eles sentam na beira do varandão e só ficam olhando para o mar", disse.
O Bar da Lili, na Mangueira (zona norte), é um cubículo. Não cabem mais do que seis pessoas sentadas. A extensão do bar é a calçada, onde há mais mesas.
"A clientela de fora do morro é de gente que trabalha no IBGE, aqui perto. Mas tem os turistas estrangeiros, que vêm para os ensaios da escola. Só bebem uma água ou refrigerante. Não comem nada", conta a dona do bar, Vanderli Ladeira, 35, a Lili.
É por ali que se pode encontrar figuras folclóricas, como Ézio Laurindo da Silva, 78, o Delegado, o mais famoso mestre-sala da história da Mangueira.
"O bar é meu escritório. Mas esse livro está esquecendo dos botecos que todo mundo aqui frequenta. A Velha Guarda só se reúne no bar do Damião, na rua Olaria, que sempre foi o melhor", diz.



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