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VIOLÊNCIA
Comerciante, segundo sua mulher, foi reclamar de equipamento em rua perigosa; policial que fazia bico diz que ele parecia sacar arma
Discussão sobre radar termina em morte
Eduardo Knapp/Folha Imagem
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Parentes no velório de Samuel Escobar Carrasco, morto por um policial que fazia bico na zona leste |
GILMAR PENTEADO
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma discussão sobre um radar
móvel na zona leste de São Paulo
terminou, na madrugada de ontem, com a morte do comerciante
Samuel Escobar Carrasco, 31. Ele
foi atingido por um tiro disparado
por um sargento da Polícia Militar, que fazia bico ilegalmente como segurança da empresa responsável pelo radar.
O carro do comerciante já havia
sido multado, no último mês,
duas vezes na mesma avenida.
O sargento Carlos Roberto Valereano, 47, fugiu do local do crime. Ele se apresentou ao 62º DP
(Ermelino Matarazzo) cinco horas depois e foi indiciado por homicídio doloso (com intenção),
mas não foi preso. Ele foi poupado da prisão em flagrante por ter,
segundo a polícia, procurado a
delegacia, por confessar ter atirado no comerciante e por ter entregue a arma usada no crime, um
revólver calibre 38.
O comerciante foi atingido por
um tiro, que atravessou seu braço
esquerdo e se alojou no coração.
O crime ocorreu na avenida Assis
Ribeiro, em São Miguel Paulista,
às 0h30 de ontem. Segundo a mulher do comerciante, Rita de Cássia Paganini, 24, que estava no
carro com ele, Carrasco parou seu
Vectra prata depois de perceber
um flash do radar.
Ele iria, segundo ela, reclamar
contra a colocação do radar de
madrugada em uma área de alta
periculosidade. O limite permitido naquele trecho é de 50 km/h.
A reportagem apurou que as
análises iniciais não localizaram
no aparelho a imagem de nenhum Vectra prata ultrapassando
a velocidade máxima naquele horário -mas apenas a de um veículo preto, a 61 km/h, cuja placa
está ilegível. Paganini afirma que
seu marido estava a 60 km/h.
O Vectra, segundo dados do Detran-SP e da CET, acumula R$
1.999,25 em sete multas que ainda
não foram pagas nos últimos dois
anos (quatro delas por excesso de
velocidade). Ele já havia sido flagrado por radares na Assis Ribeiro três vezes -incluindo os dias
18 e 19 de setembro.
O registro oficial do carro também aponta que seus documentos
foram apreendidos em novembro
de 2001. Licenciamento e IPVA
(R$ 2.202,11) estão atrasados.
Versões
A Polícia Civil investiga duas
versões do crime. Na primeira,
sustentada por Rita de Cássia Paganini, Carrasco foi agredido e
morto sem motivo. Na segunda,
defendida pelo sargento da PM,
ele teria feito um gesto que parecia sacar uma arma. Carrasco estava desarmado.
Segundo sua mulher, os dois
voltavam de uma festa quando o
comerciante percebeu o flash de
um radar móvel. Quando ele saiu
do carro e começou a reclamar da
multa, teria sido cercado por dois
homens armados. Um deles, segundo Paganini, deu uma coronhada em Carrasco, que teria caído sobre o equipamento.
Logo depois, segundo a mulher,
o mesmo homem fez o disparo
contra o comerciante. "O homem
também apontou o revólver para
mim e não me matou porque apareceram vários motoboys", disse
Paganini. O comerciante voltou
para o carro e tentou dirigir, mas
desmaiou. Morreu no hospital.
O operador de radar da Consladel (uma das empresas que cuidam dos aparelhos móveis em
SP) Washington Luiz dos Santos
Bastos, 30, disse, no boletim de
ocorrência feito na madrugada,
que estava perto do aparelho
quando teria visto o comerciante
sair do carro e tentar destruí-lo.
Logo depois, teria havia uma briga entre o sargento e Carrasco.
À tarde, Bastos foi ouvido novamente e disse que o disparo ocorreu quando o comerciante tentava segurar o braço do PM. A descrição contrasta com o depoimento do sargento no 62º DP, às
6h de ontem. Valereano disse que
atirou porque o comerciante parecia sacar uma arma. Ele também confirmou trabalhar para a
empresa Consladel como segurança -o bico é proibido pelo Estatuto da Polícia Militar.
Valereano é policial militar há
24 anos e estava lotado no CFAP
(Centro de Formação de Aperfeiçoamento de Praças). Ele foi afastado das funções e está à disposição da Corregedoria da PM.
Ele e a mulher do comerciante
devem depor no 62º DP nesta semana. "Se for apurado que ele [o
PM] não está falando a verdade,
vou pedir a prisão preventiva",
disse o delegado Gilmar Pasquini
Contrera. A polícia tenta descobrir quem seria o segundo homem armado descrito por Paganini. Carrasco será enterrado hoje, no cemitério Vila Formosa 2.
Os radares móveis existentes
em São Paulo são operados pelo
consórcio Monitor, que é remunerado por "produção" -recebe
R$ 26,87 para cada multa registrada e paga pelos motoristas.
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