São Paulo, sexta-feira, 09 de novembro de 2007

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7,7% dos meninos de rua admitem roubar, diz estudo

Resposta, espontânea, foi a sexta mais freqüente em levantamento feito em SP

Para pesquisadora "rua suga a criança, que fica exposta a todo tipo de exploração e drogas'; maioria, porém, diz nem pensar em roubar

CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Entre as crianças e adolescentes em situação de rua em São Paulo, 7,7% responderam a uma pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) que praticam roubo . A resposta espontânea foi a sexta mais freqüente no quesito "atividade praticada", a frente de clássicos como "flanelinha" e "rodinho".
O dado faz parte da terceira etapa do Censo de Criança e Adolescente em Situação de Rua feito a pedido da Secretaria Municipal de Assistência Social. Foram ouvidas 490 crianças e adolescentes de 7 anos a 18 anos, nos bairros do centro e em Pinheiros (zona oeste), onde as fases anteriores do censo identificaram maior concentração de crianças.
A pesquisa de atividade praticada foi feita de duas maneiras. A primeira, por observação do pesquisador, teve resultado genérico. O primeiro lugar, com 44,2% foi definido apenas como "parado, sentado, andando", depois vieram venda, esmola e malabares. Do total, 1,1% foi visto se drogando.
No segundo método, era a criança ou adolescente que respondia o que faz na rua e as respostas poderiam ser múltiplas. Metade respondeu que pede esmola, 38% disse que vende algum produto e 7,7% admitiu que rouba.
Segundo a coordenadora da pesquisa, Silvia Schor, a maioria das crianças que responderam praticar delitos também esmolam. "A verdade é que elas tentam uma coisa, se não der certo, partem para a outra."
Para ela, esse é um dos perigos da permanência na rua. "A rua suga a criança, que fica exposta a todo tipo de exploração e drogas. Ela é mais vulnerável e não tem a maturidade de um adulto, embora tenha de suportar a mesma carga", diz Silvia.
Um menino de 12 anos, que passa os dias na Rua dos Gusmões, no centro, assumiu praticar pequenos delitos. "Eu peço, mas se eu puder roubar eu roubo, porque roubam de mim também", conta.
A maioria dos que trabalham, no entanto, diz que nem pensa em roubar. Os adolescentes que vendem balas na esquina das ruas Henrique Schaumann e Teodoro Sampaio, em Pinheiros, afirmam saber que dependem da confiança dos motoristas para continuar trabalhando. "Sou honesto, estou aqui porque não tenho outra oportunidade e tento mostrar isso para quem está dentro do carro", diz um deles, que ganha R$ 25 por dia. O dinheiro é o sustento da família, que inclui pai, mãe e três irmãs.
O menor índice entre as respostas foi para a atividade "prostituição", mencionada por 0,4% das crianças e adolescentes. "Não dá para concluir por isso que a prostituição é muito baixa", disse a coordenadora da pesquisa. "As crianças aliciadas para prostituição são levadas para dentro de casas e galpões e, portanto, não foram encontradas pelos entrevistadores que falaram com quem estava na rua."


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