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Justiça dá indenização a militar ferido a bala
Tribunal do Rio obriga o Exército a pagar R$ 130 mil a Edmilson Campos
Sargento foi vítima de um tiro de pistola em 98, mas Forças Armadas dizem que ele tentou suicídio; militar mal consegue se comunicar
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Os maiores prazeres de Edmilson Campos, 30, são tomar
sol na piscina do prédio, em Jacarepaguá (zona oeste do Rio),
passear e ir à igreja. Desde setembro de 1998, nada disso ele
consegue fazer sozinho.
Vítima de um tiro de pistola
na cabeça que lhe deixou seqüelas irreversíveis, passa a
maior parte do tempo no quarto, dormindo, ouvindo música
evangélica ou em sessões das
cinco especialidades médicas
de que precisa ter acompanhamento. Está preso à cadeira de
rodas, fala com dificuldade,
tem movimentos e raciocínio
lentos e não consegue mexer o
lado direito do corpo.
Nas paredes da sala do apartamento onde vive com a mãe,
Deuseni, há dez fotos de um outro Edmilson Campos: do atlético, fardado e orgulhoso sargento do 26º Batalhão de Infantaria Pára-Quedista, tropa
de elite do Exército Brasileiro.
O Tribunal Regional Federal
(TRF) do Rio de Janeiro condenou a União a pagar R$ 130 mil
por danos morais à família do
militar, reformado por invalidez, em setembro. A medida
confirma decisão de primeira
instância e conclui que as lesões sofridas pelo sargento decorreram de disparo efetuado
em quartel, "o que configura
responsabilidade da União".
Acusação
Relatório do Inquérito Policial Militar (IPM) que apurou o
caso, assinado pelo então major
Aloysio Arthur Chaves Pinto
-hoje tenente-coronel-, conclui por tentativa de suicídio. A
família contesta.
O IPM contraria ao menos
quatro laudos técnicos do
Exército e da Polícia Civil do
Rio, que afirmam ser impossível a tese do suicídio, tendo em
vista diversas razões: a distância longa do disparo, o local do
ferimento, a falta de resíduos
de pólvora na mão do militar e
exame grafotécnico apontando
que Campos não assinou uma
suposta cautela de arma com a
qual teria disparado.
Sofrimento
A indenização visa a compensar o sofrimento da família
e o fato de a mãe do militar,
Deuseni, ter parado de trabalhar para cuidar do filho por
cinco anos. Também é reparação à acusação do encarregado
do IPM contra Deuseni e a filha
Edith, de falso testemunho e
calúnia. Segundo Aloysio, elas
não admitiam a tentativa de
suicídio "para poderem receber
integralmente a pensão da reforma e o seguro de vida que
não é pago em caso de suicídio".
É a terceira ação vencida pela
família. Até agora, porém, por
causa dos recursos da União,
nenhuma indenização monetária foi paga. Em 2003, a Justiça
garantiu a Campos tratamento
de fonoaudiologia, neurologia,
psiquiatria, além de fisioterapia e psicologia e, ainda, o
acompanhamento diário de um
enfermeiro militar.
De acordo com avaliações
médicas, Campos está regredindo. O quadro é irreversível,
segundo um boletim médico.
Ele tem pouca consciência do
que acontece ao redor e não se
lembra de nada do que aconteceu no dia do incidente. Por esses motivos, não foi entrevistado pela Folha.
Dor forte
Ultimamente, tem sentido
fortes dores de cabeça, e pouco
tem saído de casa. "Ele diz sempre que foi treinado para suportar tudo, então se está reclamando é porque [a dor] está
forte mesmo", conta a mãe.
Apesar do incidente, Campos
continua a cultivar admiração
pelo Exército, pela Brigada Pára-Quedista, e se irrita quando
alguém critica a Força e gosta
de lembrar sua condição de pára-quedista. "Não sou "frutinha", não, sou PQD! [sigla em
alusão à brigada]", disse, um
dia, ao ser pego pelo enfermeiro para ser removido da cama.
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