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opinião
Rua vira feudo e estacionamento particular
RICARDO FELTRIN
EDITOR-CHEFE DA FOLHA ONLINE
Há quase um ano a vida
dos pacatos moradores da
rua Avanhandava virou de
ponta-cabeça graças ao projeto de um único empresário,
Walter Mancini. Na rua corre o chiste de que seu objetivo é dominar o mundo, começando pela Avanhandava.
Durante meses a fio, nós,
moradores, fomos acordados
pontualmente às 8h com britadeiras. A obra atrasou. Devia ter acabado em setembro.
Dezembro está aí e ainda há
reparos a fazer, graças à incompetência dos construtores, à má escolha de materiais e ao rebuscado (e horroroso) projeto arquitetônico.
A obra mal acabou e já tem
trechos com afundamentos.
Óbvio! Deviam saber que tijolinhos delicados não servem de pavimentação numa
via que recebe caminhões de
várias toneladas -aliás, dos
próprios fornecedores dos
quatro estabelecimentos comerciais de Mancini.
Durante a reforma ocorreram vários acidentes -alguns graves-, causados pela
absoluta falta de sinalização.
Uma pobre senhora de 68
anos rompeu os ligamentos
do pé ao cair num buraco
diante do prédio da Fazenda.
Um outro morador sofreu
uma queda na outra calçada,
em buraco também não sinalizado. Ficou uma semana
internado. Quatro carros caíram em enormes valas abertas e mal-ajambradas pelos
funcionários da "parceira"
prefeitura, causando prejuízo aos proprietários.
Para encerrar, há a feiúra
do projeto: enormes vigas de
pedra erguidas, o primeiro
sinal do mau gosto, que prossegue com fontes estilo rococó. Podia ser pior. Mancini
queria fontes luminosas!
Os taxistas foram banidos
da rua. Afinal, o empresário
precisa de espaço para estacionar e manobrar os carros
dos seus clientes. Ah, sim, a
rua tinha uma única vaga
destinada a deficientes físicos, mas ela desapareceu.
Não se queixem, deficientes!
Mancini precisa estacionar
seus ônibus particulares carregados de turistas!!
Após dez anos, sem nenhum pesar, estou deixando
a Avanhandava. Podia até
comprar o apartamento que
alugo há tanto tempo, mas
pensei bem... Deus me livre
de viver num feudo dominado por um empresário que
acha que moradores de uma
rua são um empecilho para
seus negócios.
Não serei eu quem vai
atrapalhar seu projeto de dominar o mundo.
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