São Paulo, Sábado, 10 de Abril de 1999
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ENERGIA
Relatório avalia que companhia demorou para solucionar curto-circuito e agiu mal ao tentar religar sistema sozinha
Agência responsabiliza Cesp por blecaute

CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio

O relatório de fiscalização da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) sobre o blecaute do dia 11 de março responsabiliza a Cesp (Companhia Energética de São Paulo) pelo desligamento do sistema. Segundo o relatório, a demora na solução de um curto-circuito numa barra de proteção da subestação acarretou o blecaute.
O curto-circuito, causado pelo raio inicialmente apontado como culpado pelo blecaute, durou 6,066 segundos. O raio que causou o curto, segundo o relatório, caiu em uma linha de transmissão, e não na subestação de Bauru, como o governo inicialmente divulgou.
De acordo com o relatório da Aneel, o raio caiu num ponto a um máximo de 50 km da subestação, e não foi a causa direta do blecaute. O documento diz ainda que a Cesp falhou ao tentar, inicialmente, religar o sistema sozinha, sem pedir ajuda ao ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
O relatório diz que o blecaute foi causado pela associação de problemas em equipamentos (relés e pára-raios) da subestação de Bauru, pertencente à Cesp, associados à forma de operação da unidade e à demora na eliminação do curto-circuito provocado pelo raio.
"A demora na eliminação do curto-circuito, associado aos problemas relatados no item 1, foi que causou o blecaute, e não a descarga atmosférica que gerou o curto", diz o item 3 do relatório, de 31 de março de 99, assinado pelo engenheiro Manoel Eduardo M. Negrisoli, da Superintendência de Fiscalização dos Serviços de Eletricidade da Aneel.
O item 1 fala dos demais problemas que originaram o acidente: "O desligamento total do sistema no último dia 11, devido ao curto-circuito provocado por uma descarga elétrica atmosférica na linha de transmissão de 440 kV, Assis-Bauru, poderia ter sido evitado, não fossem a forma de operação da subestação naquele instante e os tipos de relés existentes hoje na subestação de Bauru", diz.

Sem proteção
Na continuação do item 3 das conclusões, o relatório responsabiliza explicitamente a Cesp.
Após afirmar que a demora na eliminação do curto-circuito "foi devida à ausência de proteção específica para esse tipo de defeito (curto-circuito na barra)", além da "não-atuação adequada das proteções existentes", o texto do item conclui: "caracterizando, portanto, a responsabilidade da Cesp pelo desligamento do sistema".
O diretor da Aneel Eduardo Henrique Ellery Filho disse que o relatório representa o ponto de vista do fiscal Negrisoli e que é o primeiro passo em um processo que pode resultar em punições à Cesp, caso as conclusões se confirmem.
Ele disse que a Cesp foi notificada no dia 6 deste mês e tem 15 dias a partir daquela data para apresentar sua contestação.
O relatório da Aneel diz que, embora haja pouca probabilidade, um blecaute pode voltar a ocorrer "se nenhuma modificação for feita na operação da subestação".
Sobre a suposta falha da Cesp no processo de religação do sistema -o blecaute durou até quatro horas e 15 minutos em certas regiões-, o texto diz que o correto seria ela ter pedido ao GCOI/ONS "a recomposição coordenada do sistema".
A sigla GCOI é o Grupo Coordenador das Operações Integradas, órgão coordenado pela Eletrobrás que está sendo substituído gradualmente pelo ONS, órgão formado pelo conjunto das empresas que atuam no sistema.
O ONS respaldou a primeira versão sobre o blecaute, divulgada pelo ministro das Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, no dia seguinte ao acidente.


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