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ENERGIA
Relatório avalia que companhia demorou para solucionar curto-circuito e agiu mal ao tentar religar sistema sozinha
Agência responsabiliza Cesp por blecaute
CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio
O relatório de fiscalização da
Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) sobre o blecaute do
dia 11 de março responsabiliza a
Cesp (Companhia Energética de
São Paulo) pelo desligamento do
sistema. Segundo o relatório, a demora na solução de um curto-circuito numa barra de proteção da
subestação acarretou o blecaute.
O curto-circuito, causado pelo
raio inicialmente apontado como
culpado pelo blecaute, durou 6,066
segundos. O raio que causou o curto, segundo o relatório, caiu em
uma linha de transmissão, e não na
subestação de Bauru, como o governo inicialmente divulgou.
De acordo com o relatório da
Aneel, o raio caiu num ponto a um
máximo de 50 km da subestação, e
não foi a causa direta do blecaute.
O documento diz ainda que a Cesp
falhou ao tentar, inicialmente, religar o sistema sozinha, sem pedir
ajuda ao ONS (Operador Nacional
do Sistema Elétrico).
O relatório diz que o blecaute foi
causado pela associação de problemas em equipamentos (relés e pára-raios) da subestação de Bauru,
pertencente à Cesp, associados à
forma de operação da unidade e à
demora na eliminação do curto-circuito provocado pelo raio.
"A demora na eliminação do curto-circuito, associado aos problemas relatados no item 1, foi que
causou o blecaute, e não a descarga
atmosférica que gerou o curto",
diz o item 3 do relatório, de 31 de
março de 99, assinado pelo engenheiro Manoel Eduardo M. Negrisoli, da Superintendência de Fiscalização dos Serviços de Eletricidade da Aneel.
O item 1 fala dos demais problemas que originaram o acidente: "O
desligamento total do sistema no
último dia 11, devido ao curto-circuito provocado por uma descarga
elétrica atmosférica na linha de
transmissão de 440 kV, Assis-Bauru, poderia ter sido evitado, não
fossem a forma de operação da subestação naquele instante e os tipos de relés existentes hoje na subestação de Bauru", diz.
Sem proteção
Na continuação do item 3 das
conclusões, o relatório responsabiliza explicitamente a Cesp.
Após afirmar que a demora na
eliminação do curto-circuito "foi
devida à ausência de proteção específica para esse tipo de defeito
(curto-circuito na barra)", além da
"não-atuação adequada das proteções existentes", o texto do item
conclui: "caracterizando, portanto, a responsabilidade da Cesp pelo
desligamento do sistema".
O diretor da Aneel Eduardo Henrique Ellery Filho disse que o relatório representa o ponto de vista
do fiscal Negrisoli e que é o primeiro passo em um processo que pode
resultar em punições à Cesp, caso
as conclusões se confirmem.
Ele disse que a Cesp foi notificada no dia 6 deste mês e tem 15 dias
a partir daquela data para apresentar sua contestação.
O relatório da Aneel diz que, embora haja pouca probabilidade,
um blecaute pode voltar a ocorrer
"se nenhuma modificação for feita
na operação da subestação".
Sobre a suposta falha da Cesp no
processo de religação do sistema
-o blecaute durou até quatro horas e 15 minutos em certas regiões-, o texto diz que o correto
seria ela ter pedido ao GCOI/ONS
"a recomposição coordenada do
sistema".
A sigla GCOI é o Grupo Coordenador das Operações Integradas,
órgão coordenado pela Eletrobrás
que está sendo substituído gradualmente pelo ONS, órgão formado pelo conjunto das empresas
que atuam no sistema.
O ONS respaldou a primeira versão sobre o blecaute, divulgada pelo ministro das Minas e Energia,
Rodolpho Tourinho, no dia seguinte ao acidente.
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