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Polícia já sabia de quadrilha que vendia CNH
Prodesp avisou direção da polícia sobre esquema em Ferraz em fevereiro, bem antes da Operação Carta Branca
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao contrário do que anunciou no dia 3, após a chamada
Operação Carta Branca, a direção da Polícia Civil já sabia, ao
menos desde o fim de fevereiro,
que a Ciretran (Circunscrição
Regional de Trânsito) de Ferraz de Vasconcelos (Grande
SP) funcionava como central da
quadrilha que, nos últimos dois
anos, vendeu irregularmente
1.300 CNHs (carteiras nacionais de habilitação).
Integrante da Corregedoria
da Polícia Civil, o delegado José
Antônio Ayres de Araújo, único
representante da polícia que se
manifestou no dia da operação,
disse na ocasião: "Não sabíamos de nada. Só ficamos sabendo ontem [anteontem] que havia um delegado e um investigador envolvidos". A Corregedoria investiga policiais suspeitos de praticar crimes.
No entanto, um documento
assinado pelo delegado Ruy Estanislau Silveira Mello, chefe
do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), em 27 de
fevereiro, aponta que a Prodesp
(Companhia de Processamento de Dados de SP) o informou
sobre as possíveis irregularidades nas emissões das carteiras
em Ferraz e em 33 Ciretrans.
Em vez de acionar a Corregedoria Geral, Mello redistribuiu
a informação, repassada às Ciretrans pelo Demacro (Departamento de Polícia Judiciária
da Macro SP), órgão que cuida
da Polícia Civil na Grande SP.
Procurados pela Folha, o secretário da Segurança Pública,
Ronaldo Marzagão, e o delegado-geral, Maurício José Lemos
Freire, não se manifestaram
-Freire também recebeu o documento de 27 de fevereiro.
Um dos avisos sobre as possíveis irregularidades foi respondido no dia 13 de maio, com o
pedido de "mais prazo para as
investigações", pelo delegado
Fernando José Gomes, ex-chefe da Ciretran de Ferraz. Ele foi
preso na sexta-feira.
Ontem, a Justiça determinou a prisão de dois policiais
responsáveis pelos exames
práticos na Ciretran de Ferraz
-Johnson Benedito de Paula e
Ulisses da Silva Leite. Eles se
apresentaram à corregedoria à
noite e foram presos.
Eles são suspeitos de receber
propina para forjar os exames.
Cada carteira vendida pela
quadrilha custava, em média,
entre R$ 1.300 e R$ 1.800.
Os nomes deles aparecem
em uma agenda do também policial civil Aparecido Santos, o
Cido, da Ciretran de Ferraz. Os
dois receberiam propinas.
Até agora, 22 pessoas -dentre as quais dois delegados, donos de auto-escolas, psicólogas
e uma médica- foram presas
acusados da venda de CNHs.
Quatro delegados do Detran
-três da corregedoria do órgão
e um da divisão de habilitação- foram afastados dos cargos desde a operação.
Ontem, o Detran anunciou
revisão em alguns procedimentos, entre os quais a exigência
da presença do condutor no Ciretran ou no Detran com documentos que comprovem qualificação e endereço.
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