São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2008

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Polícia já sabia de quadrilha que vendia CNH

Prodesp avisou direção da polícia sobre esquema em Ferraz em fevereiro, bem antes da Operação Carta Branca

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao contrário do que anunciou no dia 3, após a chamada Operação Carta Branca, a direção da Polícia Civil já sabia, ao menos desde o fim de fevereiro, que a Ciretran (Circunscrição Regional de Trânsito) de Ferraz de Vasconcelos (Grande SP) funcionava como central da quadrilha que, nos últimos dois anos, vendeu irregularmente 1.300 CNHs (carteiras nacionais de habilitação).
Integrante da Corregedoria da Polícia Civil, o delegado José Antônio Ayres de Araújo, único representante da polícia que se manifestou no dia da operação, disse na ocasião: "Não sabíamos de nada. Só ficamos sabendo ontem [anteontem] que havia um delegado e um investigador envolvidos". A Corregedoria investiga policiais suspeitos de praticar crimes.
No entanto, um documento assinado pelo delegado Ruy Estanislau Silveira Mello, chefe do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), em 27 de fevereiro, aponta que a Prodesp (Companhia de Processamento de Dados de SP) o informou sobre as possíveis irregularidades nas emissões das carteiras em Ferraz e em 33 Ciretrans.
Em vez de acionar a Corregedoria Geral, Mello redistribuiu a informação, repassada às Ciretrans pelo Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro SP), órgão que cuida da Polícia Civil na Grande SP.
Procurados pela Folha, o secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, e o delegado-geral, Maurício José Lemos Freire, não se manifestaram -Freire também recebeu o documento de 27 de fevereiro.
Um dos avisos sobre as possíveis irregularidades foi respondido no dia 13 de maio, com o pedido de "mais prazo para as investigações", pelo delegado Fernando José Gomes, ex-chefe da Ciretran de Ferraz. Ele foi preso na sexta-feira.
Ontem, a Justiça determinou a prisão de dois policiais responsáveis pelos exames práticos na Ciretran de Ferraz -Johnson Benedito de Paula e Ulisses da Silva Leite. Eles se apresentaram à corregedoria à noite e foram presos.
Eles são suspeitos de receber propina para forjar os exames. Cada carteira vendida pela quadrilha custava, em média, entre R$ 1.300 e R$ 1.800.
Os nomes deles aparecem em uma agenda do também policial civil Aparecido Santos, o Cido, da Ciretran de Ferraz. Os dois receberiam propinas.
Até agora, 22 pessoas -dentre as quais dois delegados, donos de auto-escolas, psicólogas e uma médica- foram presas acusados da venda de CNHs.
Quatro delegados do Detran -três da corregedoria do órgão e um da divisão de habilitação- foram afastados dos cargos desde a operação.
Ontem, o Detran anunciou revisão em alguns procedimentos, entre os quais a exigência da presença do condutor no Ciretran ou no Detran com documentos que comprovem qualificação e endereço.


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