São Paulo, Segunda-feira, 10 de Julho de 2000
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Manaus tem 3.000 menores prostituídos

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

Cerca de 3.000 menores de idade se prostituem nas ruas de Manaus, de acordo com estimativa do Conselho Tutelar da cidade.
O Programa Cunhantã Curumim de combate à exploração sexual já atende em Manaus 2.986 meninas e meninos, mas seus próprios organizadores assinalam o aumento no número de menores prostituídos nas esquinas da cidade.
É o que ocorre nos bairros cortados pelas avenidas Grande Circular e Brasil. A partir das 21h, a menos de cem metros de suas próprias casas, as crianças e adolescentes fazem ponto nas ruas.
O programa sai por R$ 10 e as prostitutas mirins estão sempre vestidas precariamente, com chinelo e camisetas.
A., 15, e W., 14, estavam na rua na quarta-feira passada no bairro Compensa. "Estou aqui porque preciso, minha mãe teve derrame e parou de trabalhar e tenho mais dois irmãos", disse A.
Há dois anos na avenida Brasil, W. disse que não tem mais vergonha. "Eu sou o esteio da minha casa."
Elas nunca ouviram falar do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e não sabem da existência de programas que podem tirá-las da rua.
"Não conheço nada disso, mas, se o governo quer tirar a gente da rua, ele também precisa nos ajudar a ganhar o nosso, porque não tem emprego", diz A., há sete meses ""na vida".
Segundo ela, em dias ""bons" o trabalho pode render até R$ 50. "Eu compro comida para casa e pago o aluguel", disse.
A ausência dos conselhos municipais dos direitos da criança e do adolescente em 44 dos 62 municípios do Estado deixa vulnerável a situação dessas crianças e adolescentes no Amazonas.
A implantação dos conselhos é determinada pelo artigo 88 do ECA. "Existe um desconhecimento por parte dos prefeitos e das próprias Câmaras Municipais do que preconiza a lei federal. Daí a dificuldade de implantar essa política no Amazonas", afirma o presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, Paulo Sampaio.
Ainda assim, na avaliação de Sampaio, Manaus foi a cidade amazonense que mais avançou com medidas socioeducativas determinadas pelo ECA.
O Conselho Tutelar da Zona Leste e o SOS Criança de Manaus atenderam, nos últimos três anos, 7.179 crianças em Manaus.



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