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São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2003

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RIO

Traficante teria confessado, ao ser preso, a autoria do tiro que atingiu aluna; rapaz e oficial que o prendeu negam a confissão

Garotinho diz ter solucionado caso Estácio

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Com a apresentação de Elton dos Santos, 19, o Batata, a Secretaria Estadual de Segurança Pública anunciou ter esclarecido o caso do tiro que atingiu a estudante Luciana Gonçalves de Novaes, 20, no campus do Rio Comprido (zona norte do Rio) da Universidade Estácio de Sá, no dia 5 de maio.
O secretário Anthony Garotinho disse ontem que Santos foi o autor do disparo. O acusado nega. A secretaria proibiu que ele fosse entrevistado. Em depoimento à DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes), Santos disse que não participou do crime. Foi a quarta versão sobre a autoria apresentada para o caso.
"A polícia dá o caso da Estácio como esclarecido, resolvido", afirmou Garotinho. A certeza do secretário se baseia em supostas declarações de Santos ao ser preso, no último dia 12, por um major e dois sargentos do Serviço Reservado da Polícia Militar.
Ele teria dito aos policiais que, na manhã em que a jovem foi baleada, havia trocado tiros com um homem que vendia drogas no pátio do campus. Também teria dito, no momento da prisão, que não estava mais com a pistola usada naquele dia. A arma, que teria sido enterrada, não foi localizada.
O major Luiz Carlos Leal Gomes, que prendeu Santos, afirmou, na frente de Garotinho, do subsecretário Marcelo Itagiba (novo homem-forte da secretaria) e do chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, que o suspeito não confessou ter atirado na estudante. "Ele não reconheceu que atirou na menina", disse o oficial.
Garotinho citou ainda a conclusão do Instituto de Criminalística Carlos Éboli de que saíram da mesma arma o tiro que atingiu a universitária e o que matou, em 6 de junho, o traficante Valério Oliveira, na zona norte.
Santos teria, segundo o secretário, participado do assassinato de Oliveira. Mais uma vez, o acusado negou. Assumiu apenas a condição de traficante do morro do Turano, vizinho ao campus.
Com base na suposta confissão informal e no laudo, Garotinho disse que a polícia elucidou o crime. Contribuíram, segundo o secretário, denúncias anônimas à PM de que Santos teria atirado na jovem e matado Oliveira.

Família
A mãe da estudante, Elena Novaes, pouco falou sobre o suposto esclarecimento do caso. "No momento, estou mais preocupada com a cura da minha filha. Se a polícia está certa ou errada, eu não sei. Dúvidas, todos nós temos, até pela forma rápida como foi desvendado o caso."
O Hospital Pró-Cardíaco informou que o estado da jovem continua grave. Ela está tetraplégica. Embora respire com o auxílio de aparelhos, ela está lúcida. A bala atingiu sua mandíbula, alojando-se na coluna vertebral.
A suposta elucidação do crime provocou reações de ceticismo. O perito Ricardo Molina disse ter estranhado a conclusão policial. Marcelo Campos, diretor da Estácio, afirmou que aguarda um esclarecimento formal, pois, anteriormente, a polícia mudara versões dadas como definitivas.
O promotor Márcio Nobre informou, por meio da assessoria do Ministério Público do Estado do Rio, não considerar encerrada a apuração. Ele não acompanhou o depoimento de Batata e vai esperar os laudos antes de fazer comentários.

Antecedentes
O delegado Luiz Alberto de Andrade, da DRE, disse que indiciará Santos pelo crime de tentativa de homicídio contra a estudante. O caso da morte de Oliveira está sendo apurado pela 6ª Delegacia.
Santos só tem um antecedente criminal. Aos 17 anos, foi preso em Araruama (RJ ) acusado de participar do assalto a uma joalheria. Foi condenado a três anos de reclusão, como medida socioeducativa, pelo Juizado da Infância e da Juventude.


Colaborou MURILO FIUZA DE MELO, da Sucursal do Rio


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