São Paulo, Sábado, 10 de Julho de 1999
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Rapaz desapareceu há quase quatro anos em São Paulo
"Ninguém imagina que o filho vai sumir sem avisar", diz mãe

da Sucursal de Brasília

Há 1.629 dias a dona-de-casa Marisa Guimarães espera por alguma notícia do filho de 29 anos que desapareceu da casa da família no Campo Belo (zona sul de São Paulo) em 16 de outubro de 95 sem deixar informação alguma.
Luís Alvaro Rocha Guimarães era filho do meio e havia voltado a morar com os pais em São Paulo depois de passar dois anos administrando a fazenda da família em Marília (interior de SP).
Nos dias que sucederam o desaparecimento, Marisa, o marido e os outros dois filhos percorram a via-crúcis padrão enfrentada por famílias na mesma situação: visita a hospitais, delegacias e, por fim, ao Instituto Médico Legal.
"Na hora do desespero, a gente sempre pensa no pior. Ninguém imagina que o filho vai sumir sem avisar. Quando ele não volta, a gente imagina logo que aconteceu um acidente", conta Marisa.
Hoje, quase quatro anos depois, a mãe de Luís Alvaro diz ter quase certeza de que o filho saiu de casa sem deixar notícias por vontade própria, "para se fazer sozinho".
"Ele se formou em informática pelo Mackenzie, tinha um bom emprego, mas largou tudo para trabalhar na fazenda do pai. Tentou fazer agronomia, mas não deu certo e terminou voltando para cá. Ele não estava se encontrando", diz.
Mesmo acreditando que o filho está longe por opção e que um dia dará notícias, Marisa continua a buscar incessantemente por pistas sobre o paradeiro de Luís Alvaro.

Internet
Colocou a foto do filho na Internet em um site que reúne desaparecidos, espalhou panfletos por 3.500 lojas em todo o país e instalou um bina em casa para conseguir interceptar uma eventual ligação telefônica de Luís Alvaro.
Há um ano, Marisa e o marido receberam um telefonema de madrugada com supostas informações sobre o paradeiro do filho, que estaria vivendo em Uberlândia.
"Já tinha recebido várias ligações, mas nenhuma me deu esperanças como aquela. O rapaz descreveu perfeitamente coisas particulares dele, fiquei desesperada na ocasião", diz.
O casal voou imediatamente para Uberlândia, mas não conseguiu localizar o endereço dado pelo rapaz que havia feito a ligação. "Ele prometeu ligar de novo no dia seguinte, mas nunca mais recebemos notícias dele. Nem do meu filho."
Embora não entenda por que o filho saiu sem deixar nenhum aviso, Marisa diz que imagina ter sido uma decisão difícil. "Ele era uma pessoa amorosa, a gente conversava muito, ele queria ser voluntário. Se fez isso, é porque não tinha outro jeito."
Há dois anos, a família se mudou da casa no Campo Belo para um apartamento em Moema. Antes, contou todo o caso ao novo inquilino. "Para no caso de o Luís tentar ligar ou aparecer na velha casa. Sei que ele vai voltar quando estiver bem. É a coisa que mais quero."


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