São Paulo, Sábado, 10 de Julho de 1999
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POLÍCIA
Investigadora gravou agressão
Delegado é acusado de praticar tortura

WAGNER OLIVEIRA
da Agência Folha, em Curitiba

O delegado e dois detetives da delegacia de Campo Largo (PR) estão sendo acusados de torturar presos. A denúncia foi feita por uma investigadora, que gravou seis supostas sessões de tortura dentro da delegacia.
A investigadora Raquel Bandeira, 45, apresentou nesta semana à Corregedoria da Polícia Civil denúncia contra o delegado Marcos Antonio de Oliveira e contra os detetives Moacir Santos Silva e Fernando de Freitas, com os quais trabalhava.
Ela entregou ao corregedor-geral, Annibal Bassan Júnior, duas das fitas de áudio onde estariam gravadas as práticas de tortura contra um suspeito, que ficou preso dez dias na delegacia de Campo Largo, no final do maio, sob acusação de roubo de cargas.
Gritos, pedidos de clemência e choro podem ser ouvidos nas duas fitas. "Ai, pára com isso, doutor. Ai, tá doendo, doutor."
As frases são ouvidas nos cerca de 11 minutos que duram as gravações das duas fitas apresentadas à corregedoria. A tortura teria ocorrido em uma sala da delegacia de Campo Largo.
A vítima da suposta tortura foi identificada e prestou depoimento no início desta semana à corregedoria. A pessoa não pode ser identificada por motivo de segurança. Ela apresentava cicatrizes de lesões e foi submetida a exame de corpo de delito.
O delegado nega as acusações. Ele disse que a investigadora estava passando informações de investigações a presos que aguardam julgamento na delegacia.
"Quando descobrimos que ela estava vendendo informações, inventou a história da tortura."
Os dois detetives também negam a denúncia. Ontem, o delegado pediu afastamento do cargo até a conclusão das investigações.
O pedido foi aceito pelo delegado da Divisão Metropolitana da Polícia Civil, João Manoel Siqueira Dias. A investigadora e os outros dois policiais também foram afastados temporariamente.
Raquel Bandeira afirmou que as sessões de tortura começaram havia dois meses com a transferência de Oliveira para a delegacia de Campo Largo (região metropolitana de Curitiba).
A investigadora disse que as fitas não apresentam boa qualidade de áudio porque teria ela gravado as sessões de tortura do lado de fora da sala onde presos eram interrogados, sem conhecimento do delegado e dos outros policiais.
A Corregedoria da Polícia Civil encaminhou as fitas para perícia. "Temos que conduzir o caso com bom senso, já que há acusações de ambas as partes", disse o corregedor-geral. "Os indícios apresentados pela investigadora são bem fortes", disse.
A investigadora disse que as outras quatro fitas contendo gravações de tortura foram levadas pelo delegado. "Ele as pegou no meu carro quando descobriu que eu estava gravando a tortura", disse.


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