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Solidários, não fumantes saem para acompanhar os amigos que vão fumar
DANIELA MERCIER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Por solidariedade aos amigos ou mesmo inveja das "rodinhas" criadas por fumantes
em frente de bares e casas noturnas, desde que a lei antifumo entrou em vigor, na última
sexta, pessoas que não fumam
também preferiram ficar do
lado de fora ou adiaram a entrada nos estabelecimentos.
Isso porque, no primeiro final de semana de fiscalização
da norma que proíbe o fumo
em ambientes fechados de
uso coletivo, as calçadas viraram ponto de encontro e de
reclamação dos fumantes.
"Quase todos os meus amigos fumam. Tive que sair também ou ia ficar lá dentro sozinha", afirma a universitária
Ana Paula Talavera, que ontem acompanhava uma amiga
em frente ao Astronete, clube
underground do centro.
"Está ridículo. Não tem ninguém lá dentro", diz a estudante Flávia Brito, fumante.
Mesmo sem fumar, o produtor de cinema Luis Dreyfuss comprou uma lata de cerveja na rua e ficou na porta do
Club Noir, também na região
central. Ele disse ter visto alguns conhecidos na calçada
enquanto passava de carro e
resolveu parar por ali. "Aqui
converso com os amigos sem
gastar muito dinheiro", diz.
Na boate D-Edge, na Barra
Funda (zona oeste), havia tanto pessoas em rodinhas do lado de fora quanto na fila para
entrar. Alguns clientes comentavam que o lugar estava
mais vazio do que normalmente. "É melhor sair para
conversar aqui fora", diz o estudante André de Biasi. Segundo a gerência, o movimento não caiu com a nova lei.
A "panelinha" é confirmada
por quem fuma. "[A calçada]
Virou um novo point, mas só
de fumantes", diz o funcionário público Leonardo Zandomênico, na porta de um boteco na rua Augusta. Ele afirma
lamentar a separação entre os
grupos. "Tenho certeza de que
meus amigos lá dentro não se
importariam que eu fumasse
na frente deles. Mas agora fico
aqui fora, só com quem fuma."
A nova concentração de fumantes aumentou a sujeira
nas ruas. Em todos os lugares
havia muitas bitucas e maços
de cigarro pelo chão.
No Filial, bar tradicional da
Vila Madalena, na zona oeste,
uma linha amarela pintada na
calçada, que antes dividia a
área das mesas e a de circulação, causou polêmica por
também servir de separação
para a "área de fumantes".
Segundo normas da casa,
ninguém podia ultrapassá-la
com cigarro na mão. "Isso é
fascista, discrimina. Fui abordada diversas vezes por não
fumantes, reclamando que
meu cigarro incomodava", diz
a fotógrafa Aline Moraes.
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