São Paulo, segunda-feira, 10 de agosto de 2009

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Solidários, não fumantes saem para acompanhar os amigos que vão fumar

DANIELA MERCIER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Por solidariedade aos amigos ou mesmo inveja das "rodinhas" criadas por fumantes em frente de bares e casas noturnas, desde que a lei antifumo entrou em vigor, na última sexta, pessoas que não fumam também preferiram ficar do lado de fora ou adiaram a entrada nos estabelecimentos.
Isso porque, no primeiro final de semana de fiscalização da norma que proíbe o fumo em ambientes fechados de uso coletivo, as calçadas viraram ponto de encontro e de reclamação dos fumantes.
"Quase todos os meus amigos fumam. Tive que sair também ou ia ficar lá dentro sozinha", afirma a universitária Ana Paula Talavera, que ontem acompanhava uma amiga em frente ao Astronete, clube underground do centro.
"Está ridículo. Não tem ninguém lá dentro", diz a estudante Flávia Brito, fumante.
Mesmo sem fumar, o produtor de cinema Luis Dreyfuss comprou uma lata de cerveja na rua e ficou na porta do Club Noir, também na região central. Ele disse ter visto alguns conhecidos na calçada enquanto passava de carro e resolveu parar por ali. "Aqui converso com os amigos sem gastar muito dinheiro", diz.
Na boate D-Edge, na Barra Funda (zona oeste), havia tanto pessoas em rodinhas do lado de fora quanto na fila para entrar. Alguns clientes comentavam que o lugar estava mais vazio do que normalmente. "É melhor sair para conversar aqui fora", diz o estudante André de Biasi. Segundo a gerência, o movimento não caiu com a nova lei.
A "panelinha" é confirmada por quem fuma. "[A calçada] Virou um novo point, mas só de fumantes", diz o funcionário público Leonardo Zandomênico, na porta de um boteco na rua Augusta. Ele afirma lamentar a separação entre os grupos. "Tenho certeza de que meus amigos lá dentro não se importariam que eu fumasse na frente deles. Mas agora fico aqui fora, só com quem fuma."
A nova concentração de fumantes aumentou a sujeira nas ruas. Em todos os lugares havia muitas bitucas e maços de cigarro pelo chão.
No Filial, bar tradicional da Vila Madalena, na zona oeste, uma linha amarela pintada na calçada, que antes dividia a área das mesas e a de circulação, causou polêmica por também servir de separação para a "área de fumantes".
Segundo normas da casa, ninguém podia ultrapassá-la com cigarro na mão. "Isso é fascista, discrimina. Fui abordada diversas vezes por não fumantes, reclamando que meu cigarro incomodava", diz a fotógrafa Aline Moraes.


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