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OPINIÃO
O Godzilla dos "equívocos"
HEBE TOLOSA
Quem pensa que compreender o
que se lê só ocorre com pessoas
bem alfabetizadas está enganado.
Há preconceitos e até interesses
outros que "obnubilam" o leitor,
fazendo com que ele leia como lhe
interessa, fato extremamente grave quando se deseja construir a cidadania - grave, ademais, quando se trata de jornalista, por definição formador de opiniões.
Sabe muito bem o repórter que a
versão vale mais que o fato. Daí
advém uma lição, nem sempre tão
bem lembrada, do que ocorreu
com os donos da Escola Base, destruídos por irresponsabilidade,
afoiteza e ânsia por manchetes de
grande parte desses profissionais
da imprensa, que, com a versão,
ergueram o fato virtual como real.
Mas quando a atitude de "ver"
o que se deseja (ou o que foi encomendado pelo "rei" do momento) e ler o que não está escrito produz manchetes, temos de pensar
na nova cegueira que toma conta
de nossa cultura, parte da crescente descrença no que se fala ou escreve, de nossa desconfiança paranóica que sorri, cética, quando se
elogia alguma pessoa pública.
É doença altamente contagiosa e
perigosa, pois transforma inocentes em ingênuos ignorantes, úteis
a algum interesse esconso, e nivela, por baixo, tudo e todos à condição de cúmplices inequívocos de
ações pouco recomendáveis.
Com isso, assassina-se qualquer
laivo de esperança, e todos são jogados na vala dos "órfãos revoltados", abandonados pelos detentores de cargos públicos, todos
igualmente considerados ineficazes e indignos de confiança.
É tão fantástica a criatura parida
nessas circunstâncias que Godzilla
pisando o solo de Nova York passa
a ser piada cinematográfica. Ele
hoje está em toda parte, como um
deus onipresente, principalmente
nos corações e mentes dessa enorme massa de desconfiados, firme
no propósito de inocular a própria
doença nos que se encontram com
o sistema imunológico danificado.
Freud, de grandes "sacadas",
escreveu sobre o fenômeno da
"projeção". Ele via nas interpretações inadequadas o próprio autor pondo "para fora" o que dentro dele se passava. E os antigos
contam que Zeus, quando criou o
ser humano, pôs duas sacolas no
seu pescoço: uma atrás, contendo
nossos defeitos, e outra na frente,
com os defeitos alheios. Quanto
mais nos curvamos com o peso
dos nossos defeitos, mais enxergamos a sacola com os dos outros.
O mundo se encontra nessa bobagem da "globalização", o que
inclui a globalização das bobagens. Que esse Godzilla virtual,
criado pela mais veloz de todas as
energias, a imaginação humana,
não venha se transformar no mortal algoz de nossa espécie.
Hebe Tolosa, educadora, é secretária da Educação do município de São Paulo
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