São Paulo, quinta, 10 de setembro de 1998

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Ônibus tinham 12 e 15 anos de uso

WILLIAM FRANÇA
enviado especial a Anápolis (GO)

Os dois ônibus usados pela Centro-Oeste Turismo, empresa que transportava os romeiros de Anápolis acidentados anteontem na rodovia Anhanguera, tinham 12 e 15 anos de uso.
Segundo certificados em poder do DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem), os dois ônibus estavam "em plenas condições de segurança e de conforto". O certificado vale por um ano.
O veículo KAX 6061-GO, que foi o primeiro a se chocar com o caminhão em chamas, tinha 12 anos e recebeu o Certificado de Segurança Veicular em julho. O ônibus BWY 5872-GO tinha 15 anos e foi vistoriado em junho.
Segundo a legislação, todos os ônibus com mais de dez anos de vida útil têm de passar anualmente por uma inspeção de qualidade e segurança Äque inclui testes de freio e suspensão, entre outrosÄ, feita por empresas credenciadas pelo DNER.
A Folha apurou que a empresa cometeu, no entanto, pelo menos duas infrações na viagem em que transportava os romeiros.
A primeira: um dos motoristas escalados para a viagem foi trocado antes dela sem que essa alteração fosse informada ao DNER. Essa infração poderia ter resultado na apreensão do ônibus durante a viagem e em multa de até R$ 1.226.
O motorista escalado pouco antes da viagem foi o que se salvou por estar dormindo no bagageiro. Luiz Carlos Sales, 43, viajou em lugar de Gerson Caetano Lima Äque, segundo a empresa, estava com o atestado de saúde vencido, o que o impediu de viajar.
A segunda infração foi justamente o fato de um motorista viajar no bagageiro. Segundo o DNER, essa infração configura multa de R$ 263. Um dos três sócios da Centro-Oeste Turismo, Valcir Braz de Amorim, 28, disse que a empresa desconhece esse hábito e que o desautoriza.
A paróquia de Nossa Senhora Aparecida, em Anápolis, passou o dia checando a listagem com o nome dos mortos e dos sobreviventes do acidente.
Nove pessoas continuavam internadas em Anápolis até o início da noite de ontem. O caso mais grave era o de Maria Cândida de Oliveira, 49, que tem 95% do corpo com queimaduras de terceiro grau. Ela permanecia internada na UTI do Hospital de Queimaduras de Anápolis sob anestesia geral.
Ontem, às 6h30, chegou a Anápolis o ônibus com 28 sobreviventes. Parentes tiveram de enfrentar um cordão de isolamento feito por fiéis da paróquia, que rezavam a Ave Maria, para poder chegar aos sobreviventes. Houve princípio de tumulto. Até o início da noite de ontem não havia informações sobre o sepultamento das seis vítimas já identificadas.



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