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O SOBREVIVENTE
Se não fosse Deus, tinha morrido todo mundo
JOÃO VAZ
especial para a Folha
Fui a Aparecida do Norte pagar uma promessa, agradecer à
santa pela recuperação do meu
filho Eduardo, que se curou de
uma infecção urinária. O médico dizia que era coisa séria.
Passamos o fim-de-semana
orando e participando de missas. Essa comunhão ajudou na
hora do acidente.
Se não fosse Deus, tinha
morrido todo mundo, porque
foi uma coisa muito rápida, é
incrível que tantos se salvaram.
Deus é que deu essa força.
Tínhamos pedido essa proteção no começo da viagem de
volta. Antes de entrar nos ônibus, às 22h de sábado, combinamos que, 20 minutos depois
da partida, íamos rezar o terço
nos dois ônibus. Rezamos pedindo um retorno seguro.
Todos estavam felizes porque a viagem tinha sido boa.
Além das missas, visitamos o
local do rio Parnaíba onde os
pescadores acharam a imagem
de Nossa Senhora, em 1717, e
também o morro do Cruzeiro.
A subida é forte, mas quase todo mundo subiu até o topo.
A noite de segunda era livre,
mas muita gente foi para a praça com a irmã Dominique e seu
violão. Ficamos quase uma hora e meia cantando. Juntou até
gente da cidade. Descemos para o hotel cantando.
O resto foi terror. Depois de
rezarmos, eu dormi e acordei
com o ônibus sacolejando. O
ônibus parou e as chamas subiam pela janela. Os vidros estouraram. Eu estava no meio
do ônibus e vi meu filho sendo
jogado pela janela.
Uma coisa explodiu no fundo e o fogo cresceu. Corri para
a frente e empurrei para fora o
pessoal que estava na janela
quebrada. Pulei sem saber onde estavam minha mãe e minha mulher. Logo depois, o
ônibus virou uma tocha. Encontrei minha mulher depois.
Minha mãe, não.
João Vaz, 30, é representante comercial
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