São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 2000

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VIOLÊNCIA
Segundo a PM, aumento está relacionado aos pequenos delitos; índice de homicídios cresceu 73,4% desde 1991
Roubos em BH aumentam 368% na década

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

A taxa de assaltos à mão armada em Belo Horizonte cresceu 368,5% na década de 90. O índice, que em 1991 era de 105,93 por grupo de 100 mil habitantes, atingiu 496,32 no ano passado. O levantamento foi feito por pesquisadores da Fundação João Pinheiro, órgão do governo mineiro, que afirmam que essa tendência deve se acentuar neste ano.
O índice de homicídios por grupo de 100 mil habitantes na capital mineira também cresceu 73,4% no período de 1991 a 1999. Passou de 11,43 para 19,82, embora continue abaixo da média nacional, que é de 25 por grupo de 100 mil habitantes, de acordo com levantamentos feitos por organizações não-governamentais.
Nos casos de assalto à mão armada, houve redução do número de crimes apenas em 1995. Nos demais anos, o crescimento se manteve. De 1998 para 1999, ele foi de 37,65%.
O aumento da criminalidade, especialmente os assaltos, está assustando a população belo-horizontina, que tem pressionado a Polícia Militar, responsável pelo policiamento ostensivo, para que ela coíba a onda de violência com ações mais firmes.
O sociólogo Luís Flávio Sapori, pesquisador da Fundação João Pinheiro, diz que a situação é "grave e preocupante" e que "tudo aponta que no ano de 2000 a tendência venha a se acentuar". Mas ele diz que a capacidade de a Polícia Militar mudar essas taxas é "relativamente pequena".
Essa avaliação está ancorada no "estrangulamento muito claro e muito sério" do sistema prisional do Estado, de maneira que a superlotação afeta diretamente o que ocorre na atuação policial.
"Pode aumentar a eficiência da Polícia Militar, seja prevenindo ou aumentando o número de detenções, mas, por falta de vagas, muitos flagrantes não são realizados nas delegacias", disse Sapori.
Isso significa que as pessoas que praticaram furtos e roubos, respondendo aos processos em liberdade, continuam nas ruas praticando novos crimes.
"A eficiência dela (PM) não tem implicações e continuidade ao longo do fluxo do sistema da Justiça criminal. Há um equívoco em pensar que a sofisticação da PM vai ser capaz de reverter a tendência de crescimento dos crimes violentos nas grandes cidades de Minas. Há um limite estrutural para esse fenômeno. A PM só pode ir a um certo ponto."
O comandante do CPC (Comando de Policiamento da Capital), da Polícia Militar, coronel Severo Augusto Neto, disse que a presença física do policial na rua é apenas "um dos fatores" de inibição do crime. Segundo ele, a questão carcerária e principalmente a ação de políticas sociais podem contribuir de fato para a redução da criminalidade.
Segundo a Polícia Militar, o aumento dos índices de assalto à mão armada na capital mineira está relacionado principalmente aos pequenos delitos, que vão de R$ 100 a R$ 2.000. São praticados quase sempre por adolescentes e jovens com até 25 anos.
Os motivos principais para os crimes são dívidas com drogas ou para sustentar o próprio vício. E quase a totalidade dos homicídios ocorrem nas áreas de conglomerados urbanos e em favelas, dos quais de 65% a 70% estão relacionados à questão das drogas.


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