São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

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Apenas uma pessoa conseguiu sobreviver após a parede da moradia cair, no bairro de Areal, um dos mais atingidos pela chuva

14 morrem em uma casa após desabamento

DO ENVIADO ESPECIAL

O farmacêutico José Paulo Gonçalves, 45, perdeu a filha Kelly Bastos Gonçalves, 15, que morava com a mãe, Josemeri Bastos, que também morreu. Ele disse que, na hora da chuva, havia 15 pessoas na casa, localizada no bairro de Areal; 14 morreram soterradas.
"Morreram várias gerações. Mãe, tio, tia, sobrinho, sobrinha e até mesmo amigos que estavam na casa", disse ele, que reconheceu o corpo da filha no IML.
Luiz Carlos Moreira Bastos conta que foi o único a sobreviver. Ele dormia com a mãe, Neide da Silva Bastos, 56, em um quarto. Ele diz ter ouvido um barulho muito grande por volta das 4h. Conseguiu se proteger em uma laje, de onde viu a parede da casa cair.
Já Cláudia Fernando Domingos, 23, funcionária da Usina Angra 1, se mudou com o marido e os dois filhos para o bairro no sábado. A família só viveu dois dias na nova casa, totalmente destruída de madrugada. Cláudia morreu ao lado dos filhos Emerson, 3, e Natan, 4, e do marido, Lenílson, 42, que cantava em bares de Angra dos Reis e em cidades vizinhas.
"Fui lá em Areal às 10h30 e descobri que a casa de minha filha tinha sido levada pela chuva", disse a dona-de-casa Marlene Fernando, 46, mãe de Cláudia. Os corpos foram localizados de manhã.
A garçonete Cristiane Aguilar Ferreira estava em casa, no mesmo bairro, e conseguiu sobreviver. Ela diz que, após ouvir um barulho muito forte, abriu a porta de casa. Com isso, a água entrou.
"Saí de casa e fiquei em cima do entulho com meu irmão, cunhada e dois sobrinhos. Minha mãe estava sendo soterrada. Perdi tudo, mas fui salva pelos vizinhos. Graça a Deus minha mãe também conseguiu se salvar", declarou.
O drama vivido pelas famílias do bairro sensibilizou o capitão reformado da Marinha Marco Braga, 57, que saiu de casa às 3h para ajudar no socorro às vítimas.
Ele disse que, durante os trabalhos de resgate, localizou, em diferentes pontos, três mães abraçadas a filhos, todos mortos.
"Uma das mães estava dentro do berço. Elas morreram tentando proteger os filhos, numa prova da força do instinto materno", disse o militar, que mora em Areal, mas não teve a casa afetada.
O marinheiro Reginaldo Jackson, 25, disse ter conseguido salvar mãe e filha. "Estava em casa e ouvi as duas gritando. Corri e as encontrei quase soterradas por terra e lama. Com a ajuda de amigos, consegui salvá-las."
Prejuízos materiais também foram grandes na cidade. O motorista Henrique da Silva Machado, 26, teve a casa invadida pela água. "Graças a Deus não perdi a vida nem a minha família", disse ele, que mora no bairro de Belém, um dos mais afetados pelas chuvas. (MARIO HUGO MONKEN)


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