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Pesquisa revela perfil de adolescentes infratores
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A primeira "radiografia" do sistema de internação de jovens infratores elaborada pelo governo
federal revela que, na média, o
adolescente internado é um homem de 16 a 18 anos, negro ou
pardo, pobre, usuário de drogas,
vivia com a família -com renda
de até R$ 400-, não estudava e/
ou não trabalhava.
Cada interno custa em média
R$ 4.000 por mês, valor que o governo federal considera "absurdo". Em alguns Estados, o custo
mensal chega a R$ 7.000. Além
disso, a taxa de reincidência de
delitos é de 40%.
"Os Estados não cumprem suas
responsabilidades", avalia Paulo
Sérgio Pinheiro, secretário nacional de Direitos Humanos.
Existem hoje 9.555 jovens de 12
a 18 anos em instituições sócio-educativas. Desse total, 46% estão
em São Paulo. Levando em conta
a população do Estado, a taxa de
internação para cada 10 mil adolescentes é de 6,3, o dobro do índice nacional, que é de 2,88.
São Paulo só perde para Amapá,
Acre e Espírito Santo no ranking
de internações per capita.
O levantamento inédito servirá
como "mapa" para a reformulação das políticas públicas pelo novo governo, especialmente no que
diz respeito ao modelo "carcerário" herdado.
"Temos que desmontar essa lógica", disse Cláudio Vieira da Silva, presidente do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente). Uma
das recomendações é que sejam
fortalecidos os conselhos estaduais, considerados "omissos,
inoperantes ou irrelevantes".
Além disso, é esperado que cada
integrante do sistema -Executivo, Judiciário, Ministério Público
e organizações da sociedade civil- se articule melhor.
De acordo com Denise Paiva,
diretora do Departamento da
Criança e do Adolescente, existe
"um conjunto de culpas", que inclui a falta de programas em semiliberdade. Existem outros 896 jovens nesse regime no Brasil.
"Não adianta jogar essas crianças e adolescentes em prisões. Isso
só vai confirmar a trajetória deles
na carreira do crime", disse Paulo
Sérgio Pinheiro. Os principais crimes praticados pelos internos são
roubo (29,6%), homicídio
(18,6%), furto (14,8%), tráfico de
drogas (8,7%) e latrocínio (5,8%).
Família, drogas e escola
Segundo a pesquisa, 81% dos internos viviam com a família antes
de cometerem os delitos. Para os
pesquisadores, isso derruba o
"mito" de que os infratores são
"meninos de rua". Para eles, pesa
a "qualidade do vínculo familiar".
O levantamento não aborda especificamente a situação de jovens que vivem nas ruas ou infratores que não estão internados.
Além disso, a pesquisa também
mostra que 86% dos adolescentes
usavam álcool e drogas antes da
internação. Dos usuários, 67%
consumiam maconha e 31% usavam cocaína ou crack. O álcool
era a substância mais usada por
outros 32%, e os inalantes (cola de
sapateiro, por exemplo) eram
usados por 23% dos adolescentes.
Não completaram o ensino fundamental 84% dos internos, apesar da idade compatível com o ensino médio. Cerca de metade dos
jovens não estava estudando
quando cometeu o delito.
Dos que trabalhavam, apenas
3% tinham carteira assinada. Outros 40% estavam no mercado informal e 49% não exerciam nenhuma atividade.
A escolarização durante a internação, exigência da lei, é atendida
no nível fundamental: 99% das
unidades oferecem aulas, geralmente ligadas à rede pública.
No caso do ensino médio, 37%
não oferecem aulas. Além disso, o
governo apontou problemas no
espaço físico das classes e na falta
de capacitação dos professores.
Apesar de 94% das unidades
fornecerem acesso à rede pública
de saúde, o governo encontrou diversos problemas: demora no
atendimento, preconceito, exclusão do PSF (Programa de Saúde
da Família) e falta de tratamento
para dependência química.
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